Desempregado há seis meses, um morador de Rio Claro (a 175 km de São Paulo) usou uma técnica diferente para tentar conseguir um emprego com carteira assinada: decidiu oferecer R$ 300 para quem conseguir para ele um trabalho no setor de cerâmica, onde sonha trabalhar. Ele diz que também aceita pagar R$ 200 se a vaga for em qualquer outra área.
Nascido em Monte Azul (MG), Agnaldo Antunes Barbosa, 29, diz que sonha em trabalhar no setor de cerâmica.
“Eu tenho ensino médio e o curso técnico de operador de máquinas, mas quero fazer mais cursos na área de cerâmica. Para isso, preciso trabalhar e não escolho serviço. O que aparecer, eu pego”, afirma.
Média de 100 currículos por semana
Barbosa diz que, há seis meses, tem distribuído semanalmente uma média de 100 currículos, mas que até agora não teve sucesso.
“Foi aí que decidi cortar a cartolina e pregar esse anúncio. Coloquei no meu portão e em alguns outros lugares. Vamos ver se alguém se anima e ajuda”, diz.
Ele se preparava para uma entrevista de emprego ao atender a reportagem do UOL, na tarde desta segunda-feira (11). “Vamos ver se dá certo.”
Por enquanto, quatro pessoas o procuraram por conta do anúncio. “Disseram que iam batalhar uma vaga. Entreguei os currículos e estou esperando”, disse.
Era operador de máquinas
O último emprego de Barbosa foi como operador de máquinas em uma empresa de material cirúrgico, mas ele acabou saindo em um corte de vagas. “Disseram que o mercado estava em crise e mandaram mais de dez pessoas embora”, conta.
O setor industrial de Rio Claro fechou quase 2.000 vagas com carteira assinada neste ano, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Hoje ele vive com o irmão em uma casa de dois cômodos. Gastos fixos, como aluguel, água e luz, consomem cerca de R$ 600, fora alimentação. Para se manter, o desempregado faz bicos e conta com a ajuda do irmão.
“Ele tem emprego em carteira, é carregador. Mas a situação é apertada para ele também”, explica. “Eu vou segurando com os bicos, mas nunca sei se terei dinheiro para pagar as contas do mês. É muito incerto.”
Televisão de cachorro
Para conseguir algum dinheiro, Barbosa usou a maior parte do dinheiro que recebeu ao ser demitido para comprar uma máquina de assar frangos, por R$ 3.500.
Ele compra frango em mercados na cidade por R$ 14 e vende o produto aos domingos, por R$ 24.
“No começo, vendia 25, 30 frangos em cada domingo. Mas, de um mês para cá, tive que abaixar o preço para não sobrar e não perder frango. Não ganhei nem o que paguei nos frangos”, conta.
O desempregado também produz e estampa camisetas, que compra por R$ 8 e revende por R$ 20 a unidade. “Eu tenho que pagar o aluguel, vou tentando. Mas não está vendendo, o mercado está uma paradeira só”, afirma.
Vendendo o almoço para pagar a janta
Se alguém lhe ajudar a conseguir emprego, Barbosa promete pagar, mas não à vista.
“Quem me ajudar vai ter que esperar eu receber o primeiro salário, né? Estou vendendo o almoço para comprar a janta”, afirma, entre risos. “Não tenho esse dinheiro.”