O superávit da balança comercial brasileira acumulado até setembro foi comandado pelo melhor desempenho da indústria de transformação. Nos primeiros nove meses, o déficit do segmento caiu de US$ 30 bilhões no ano passado para US$ 3,6 bilhões este ano, o menor saldo negativo para o período desde 2008.

No acumulado até setembro, as exportações da indústria de transformação atingiram US$ 89,6 bilhões, com alta de 0,7% contra igual período de 2015. No mesmo período, os demais produtos recuaram 10,3%, o que fez as exportações totais caírem 3,5%. Na balança como um todo, porém, foi a queda de 23,1% das importações que propiciou o saldo positivo nos primeiros nove meses.

Com essa combinação de embarques e desembarques, houve queda no superávit dos demais setores que compõem a balança – produtos agropecuários e indústria extrativista – e foi a redução da magnitude do déficit na indústria de transformação que proporcionou a melhora no saldo comercial total.

O superávit da balança total no acumulado até setembro se expandiu de US$ 10,3 bilhões para US$ 36,2 bilhões de 2015 para este ano. Os números da balança da indústria e as conclusões estão em levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

O levantamento pondera que o pequeno crescimento das exportações da indústria de transformação veio somente após quatro anos seguidos com queda no acumulado dos três primeiros trimestres. O desempenho dos embarques ainda está longe de poder ser comemorado, diz o estudo, porque estão ainda muito aquém de iguais períodos de 2008 ou do período entre 2010 e 2014. Da mesma forma que na balança total, o declínio das importações também responderam mais pela melhora no saldo da indústria de transformação, uma vez que retrocederam 21,6%.

Na indústria de transformação, diz Rafael Cagnin, economista do Iedi, as exportações têm se recuperado de modo pontual, como em aeronaves, veículos automotivos e máquinas mecânicas. A exportação do setor automobilístico somou US$ 8,7 bilhões até setembro, com crescimento de 7,2% contra igual período do ano passado. O segmento é representativo e responde por praticamente 10% dos embarques totais de manufaturados, com uma alta que reflete não só a busca do setor externo para compensar a fraca demanda doméstica como a oportunidade dada por um câmbio que ficou mais favorável à exportação, apesar da valorização do real frente ao dólar nos últimos meses. “Esse movimento que acompanha o câmbio já aconteceu em momentos anteriores e se repete agora.”

O desempenho positivo das exportações rendeu um saldo de US$ 560 milhões no setor automotivo. O valor é relativamente pequeno, mas é o primeiro superávit para o período em oito anos. O último, de 2008, foi de US$ 1,8 bilhão no acumulado até setembro.

Máquinas e equipamentos mecânicos somam exportações de US$ 6,11 bilhões este ano, com alta mais modesta, de 4,7%. O crescimento em ritmo menor, diz Cagnin, acontece por conta da demanda do mercado internacional, ainda em recuperação. O segmento de aeronáutica exportou no acumulado do ano US$ 5,26 bilhões, com crescimento de 21,4% em relação a igual período do ano passado.

Cagnin destaca que é um crescimento forte, embora os embarques desse setor, por suas próprias características, com ciclo longo de produção, nem sempre mantém fluxo de exportação contínuo. De qualquer forma, diz ele, são embarques que refletem em grande parte a competitividade do setor.

O ajuste da balança comercial como um todo, diz Cagnin, se destaca este ano, embora tenha sido resultado principalmente da redução das importações. A preocupação é com o atual nível de câmbio mais valorizado e as perspectivas que isso pode trazer para as exportações, principalmente para 2017. Para este ano, diz o economista, a tendência de contribuição positiva dos manufaturados no saldo comercial deve se manter.

O economista do Iedi destaca a desaceleração no ritmo de redução das importações nos últimos meses. Em alguns segmentos, porém, o recuo se mantém forte. Cagnin ressalta o setor de baixa intensidade tecnológica. Nesse grupo, o superávit foi de US$ 29,3 bilhões até setembro, período no qual as exportações cresceram 3,3% e as importações caíram 22,9%.

Dentro desse grupo estão segmentos intensivos em mão de obra, como têxteis, artigos de vestuário e calçados. Foi exatamente esse conjunto de setores que puxou a queda de importação, com recuo de 37,6% no acumulado até setembro. A queda acentuada nesses grupos, avalia Cagnin, é indício de substituição de importações. Não se trata, ressalva ele, de uma “substituição clássica”, que demanda uma política de governo, com agregação de tecnologia e investimentos com esse propósito específico. É uma substituição, explica o economista, de oportunidade, criada por um câmbio mais desvalorizado, principalmente no início do ano, com a existência de uma capacidade ociosa. Um movimento, ressalta ele, que foi possível porque são segmentos tradicionais no país e que tendem a ganhar maior competitividade quando o dólar fica mais caro.