706 jovens de 15 a 29 anos foram mortos na cidade; 91% eram homens.
Pretos e pardos são maioria das vítimas; brancos lideram em suicídio.
Quase dois jovens foram assassinados por dia em 2014 na cidade de São Paulo, segundo dados inéditos do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-Aim), da Prefeitura de São Paulo, baseados em atestados de óbito, obtidos pelo G1.
A cidade teve 706 homicídios na faixa de 15 a 29 anos, o que significa 1,94 assassinatos por dia. Em 2013, o número foi 14% menor, com 608 homicídios.
O levantamento mostra que 1.783 jovens morreram em 2014. A principal causa é homicídio (39,6%), seguida por acidentes de trânsito (22,3%), suicídio (7,3%), “intervenção legal” (7%, nome dado a mortes praticadas por policiais em serviço), lesões de intenção indeterminada (6,2%) e acidentes (5,8%), que incluem choques, afogamentos, incêndios, etc.
Outros 11,8% foram cadastrados como “demais causas externas”, que incluem as mortes por doença e complicações cirúrgicas, por exemplo.
Do total de homicídios (706), 63% são de pretos e pardos, e 91% são homens. “É mais provável você ser morto se for jovem, negro ou pardo, e da periferia, isso é evidente”, disse o cientista político Guaracy Mingardi.
A única causa de morte em que o número de brancos é superior ao de pretos e pardos é nos casos de suicídios.
Para o Mingardi, a maior parte dos homicídios é causada por desavenças pessoais. “Pode ser por ciúmes, vingança, pode até ter a ver com algum fato criminoso, uma disputa entre ladrões, futebol, bebida, seja ló o que for, mas a vítima e o ator geralmente se conhecem”.
Guaracy foi secretário de Segurança Pública de Guarulhos e subsecretário nacional de Segurança Pública.
Violência por distrito
Os maiores números de homicídios estão concentrados em distritos da periferia da Zona Sul, como Jardim Ângela (34), Campo Limpo (33), Grajaú (33), Jardim São Luís (32), Capão Redondo (25), e da Zona Leste, como Sapopemba (28), Itaim Paulista (24), Cidade Tiradentes (23) e Itaquera (15). O número também é alto na Brasilândia, na Zona Norte, que teve 30 assassinatos de jovens no ano passado.
Já alguns distritos não registraram nenhum homicídio ano passado, como Moema, Perdizes e Pinheiros.
O Pro-aim, onde foi feita a pesquisa, fica dentro da Secretaria de Saúde. Nesta pasta, o local da morte cadastrado é onde fica o hospital que a pessoa morreu ou o local que ela morava. Isso pode causar diferenças com os dados da Secretaria de Segurança Pública, na qual o distrito cadastrado é onde o fato aconteceu.
Acidentes de trânsito
Os acidentes de trânsito foram responsáveis por 397 mortes de jovens em 2014. Destas, 236, ou 59%, envolveram motos. Acidentes com motos são a segunda maior causa de morte entre homens jovens.
A pesquisa ainda mostra que, do total das mortes no trânsito, 78 eram ocupantes de algum veículo, 65 morreram atropelados, 11 em acidentes de bicicleta, e 7 não tem detalhamento da situação.
Mortes praticadas por policiais em serviço
O número do que o sistema de registro das mortes do Pro-Aim chama de “intervenção legal” – mortes praticadas por policiais em serviço – é a terceira maior causa de morte entre homens jovens, atrás de homicídios e acidentes com moto. Em 2014, foram registradas 124 mortes. Nenhuma mulher foi morta por policial, segundo a pesquisa.
Em alguns distritos, o número de mortes por “intervenção legal” é maior do que o número de homicídios, como no Carrão, que teve 9 mortes por policias contra um homicídio registrado, em José Bonifácio, na Zona Leste, que teve 7 contra 6, e na Vila Guilherme, na Zona Norte, que teve 6 contra 5.
Queda nos homicídios
Apesar de ser a primeira causa da morte entre os jovens, os homicídios diminuíram em São Paulo. Segundo o especialista em segurança Guaracy, as estatísticas começaram a cair a partir do ano 2000, após um pico de violência em 1999. Em uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgada nesta quinta-feira (8), o estado de São Paulo ficou em último lugar em mortes violentas.