As incertezas sobre o futuro do governo Michel Temer, que mergulhou numa crise profunda com as acusações do empresário Joesley Batista, frearam o movimento de fusões e aquisições de empresas no mercado brasileiro.
Dados da agência Bloomberg apontam um segundo trimestre com 37 transações com valores anunciados no país. Um patamar tão ruim não havia sido registrado desde o terceiro trimestre de 2005, quando foram fechados apenas 25 acordos do tipo.
Os negócios realizados de abril a junho representaram US$ 2,9 bilhões, o que também corresponde a um ponto histórico de baixa desde o terceiro trimestre de 2006, que movimentou US$ 1,68 bilhão.
A queda aconteceu no momento em que os negócios se aceleravam, segundo Rogério Gollo, sócio da consultoria PwC. O mês de abril e o início de maio pareciam promissores na comparação com o mesmo período de 2016, quando Dilma Rousseff foi afastada, inflação estava em alta e o país não tinha perspectivas de sair da recessão.
“Se compararmos com o cenário de abril de 2016, que era muito feio, abril deste ano estava bem mais tranquilo. Mas veio essa cortina de fumaça [delação da JBS]”, diz Gollo.
Os primeiros contatos de uma empresa interessada numa aquisição costumam ocorrer por meio de um pedido de estudos sobre concorrentes que atuam no mesmo setor ou em diferentes nichos, afirma o sócio da PwC. E foram esses contatos que se estagnaram após a notícia da delação.
“Os casos que já estavam mais avançados, em negociação de valores ou discussão de contrato, seguiram o andamento normal”, diz.
Gollo estima que a paralisia de junho não deve se prolongar, apesar da crise política. “A queda dos juros e um maior controle dos gastos públicos são definições importantes no campo da economia. Isso dá uma certa previsibilidade, mesmo no cenário de incerteza de quem será o presidente nos próximos meses”, diz o sócio da PwC.
PAROU
No escritório FCR Law, a área de due dilligence, que faz a avaliação das contas das empresas a serem negociadas, vinha registrando demanda crescente de janeiro a abril. Em maio, porém, a demanda secou, depois que veio à tona a delação da JBS, estremecendo o futuro de Temer.
“Trabalhamos com transações de R$ 200 milhões a R$ 400 milhões. Esse mercado deu uma parada. Secou a demanda de negócios, que, mesmo que não chegassem ao acordo, tinham propostas para apresentar”, diz Eduardo Fleury, sócio do FCR Law.
O cenário indefinido gera duas consequências, uma deterioração nos preços e um represamento nas decisões, diz Ronaldo Xavier, sócio da Deloitte. “O investidor fica mais agressivo no preço dos ativos, fazendo ofertas mais baratas. Enquanto não acontecem as reformas trabalhista e da Previdência, os projetos de investimento ficam engavetados.”
João Ricardo Ribeiro, sócio do Mattos Filho, pondera que, apesar de a crise colocar algumas decisões em compasso de espera, há “um movimento não desprezível”, derivado das empresas atingidas na Lava Jato, que tiveram de vender ativos. “No fim do ano, ao olharmos o números, veremos muitos negócios de valor alto. Há muitas possibilidades derivadas dos negócios da J&F.”
A J&F, holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, colocou à venda vários de seus negócios, como Vigor, Eldorado, Alpargatas e ativos da JBS, para lidar com a dificuldade de crédito que passou a enfrentar após sua delação.
Entre os acordos mais importantes registrados no segundo trimestre, o fundo canadense Brookfield concluiu a compra da Odebrecht Ambiental, no fim de abril.