Com a crise econômica e as incertezas em relação ao futuro, nenhum setor conseguiu bater integralmente a meta estipulada para seus funcionários em todos os níveis.

Na média, apenas 80% da remuneração variável de curto prazo foi paga em 2015, referente ao exercício do ano passado. O setor de mineração foi o que apresentou melhor desempenho nesse sentido, atingindo 92% da meta, seguido de bens de consumo e do farmacêutico, ambos com 89%. Já os piores foram autopeças e automotivo, com 77%, e químico, com 69%. 

Na prática, presidentes de empresas que ganharam 6,5 salários de bônus em 2014 receberam 5,4 este ano. Para os VPs e diretores, o número caiu de 4 para 3,5 salários, enquanto gerentes viram seu prêmio encolher de 2,1 para 1,8 salários. Essa é uma das conclusões da pesquisa “Total Remuneration Survey”, da consultoria Mercer. O levantamento analisou mais de mil cargos em 472 empresas, sendo que quase metade delas fatura acima de US$ 251 milhões ao ano.

Para Felipe Otávio, consultor sênior da Mercer, isso é reflexo da deteriorada situação macroeconômica do país. Em sua opinião, a remuneração variável de curto prazo deve piorar ainda mais no ano que vem, pois será paga em cima do desempenho de 2015, já bastante afetado pela crise.

A turbulência já afetou até mesmo o salário-base dos executivos, dos não executivos (supervisores, coordenadores, analistas) e dos que ocupam cargos operacionais. Eles subiram, respectivamente, 5,4%, 5,9% e 6,7% em comparação com o ano passado, tendo como referência o mês de maio. Já o INPC registrado no mesmo período, que mede a inflação, foi de 8,3%.

“Historicamente, a correção salarial no Brasil sempre esteve muito próxima da inflação. Desta vez, os números revelam uma perda considerável do poder de compra desses profissionais, especialmente se levarmos em conta que a remuneração variável também deixou a desejar”, afirma. Segundo ele, a perspectiva é de inflação menor, desde que haja alguns desentraves nas questões fiscais e políticas do país. “A situação atual é bastante peculiar e ainda há muito trabalho pela frente para que ela possa ser revertida”, afirma.

De acordo com os dados da pesquisa, a diferença salarial entre o nível de entrada e o alto escalão das companhias é muito maior no Brasil – e na América Latina de forma geral – do que a constatada nos países da Europa. “Nossos executivos no topo ainda são muito bem pagos, mas a base da pirâmide sofre bastante. Em países como Alemanha e França, a distribuição de renda é muito melhor”, afirma.

A comparação entre os salários pagos em São Paulo e nas outras regiões do país também chamou a atenção de Otávio. “Essa diferença, que vinha diminuindo nos últimos anos, voltou a aumentar”, afirma. Tendo a capital paulista como referência (100%), o Rio caiu de 95% para 93%, Minas Gerais de 85% para 83% e a região Nordeste de 84% para 80%.

No que diz respeito à representatividade das mulheres nas companhias e a disparidade salarial entre os gêneros, o consultor afirma que, de todos os CEOs pesquisados, apenas 6% são do sexo feminino. Além disso, o salário dos homens que presidem empresas é, na média, 16% maior que o delas. Nos cargos de diretoria, elas representam 17%, com remuneração defasada em 9%, enquanto as posições de gerência são 29% ocupadas por mulheres, sendo que seus pares do sexo masculino ganham 4% a mais.

“As companhias precisam ter um olhar mais crítico sobre isso e criar formas de mitigar o desequilíbrio. A presença de mulheres em cargos de comando, e no mundo corporativo de forma geral, é uma questão estratégica, pois elas trazem habilidades complementares e diferentes pontos de vista”, afirma.

O estudo da Mercer também mediu a distribuição de cargos e a remuneração de acordo com as diferentes gerações dentro das empresas. Os profissionais com mais de 50 anos de idade, por exemplo, ocupam 57% dos cargos de presidência e ganham 14% a mais que os comandantes que têm entre 35 a 49 anos – e que ocupam os 43% de cadeiras restantes. Esses executivos, representantes da chamada geração X, são maioria em todas as outras posições no meio da hierarquia corporativa como vice-presidência, diretoria, gerência e supervisão. Eles também ganham 19% a mais que os profissionais da geração Y (até 35 anos) que ocupam cargos semelhantes.

Fonte: Valor Online