O corte orçamentário da atual equipe econômica é mais crível, mas ainda muito arriscado e insuficiente, dizem especialistas em contas públicas ouvidos pela Folha.
A avaliação é que os gastos precisam ser reduzidos em R$ 100 bilhões para garantir a meta de superavit primário de 1,1% do PIB. Nesta sexta-feira (22), o corte no Orçamento anunciado pelo governo ficou em R$ 69,9 bilhões.
“Dessa forma, vai precisar de mais redução de investimento e controle dos gastos na boca do caixa ao longo do ano”, diz Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon.
Para o consultor Raul Velloso, o corte proposto pelo governo é “muito arriscado” e não deixa margem para frustrações. “O que vai ocorrer é que a cada dois meses vão controlar os gastos. O corte vai ser bem maior, mas ficará envolto numa névoa.”
Para os especialistas, a equipe de Joaquim Levy (Fazenda) trabalhou com projeções mais realistas de crescimento do PIB e evolução de gastos do que previsto na proposta de lei orçamentária anual, vista como fantasiosa.
Mas o ponto frágil das contas são as projeções de arrecadação. Elas estimam que a receita líquida do governo vai crescer 14,2% em 2015 ante 2014 em termos nominais (sem descontar a inflação). O problema é que a arrecadação avançou só 2,9% no primeiro trimestre.
Ou seja, para compensar, seria preciso elevar a receita em cerca de 20% no restante do ano, algo considerado impossível em meio à recessão.
Se a arrecadação for fraca e a meta de superavit primário não for atingida, é possível que o país perca o grau de investimento das agências de avaliação de risco.
Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimento, as agências devem valorizar o esforço da atual gestão. Ela diz que o maior problema hoje é convencer o Congresso a aprovar mudanças estruturais na política fiscal.