Empresa alemã é acusada de monitorar funcionários, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na época sindicalista
Fabricante dos carros mais vendidos no fim da década de 1970 e início dos anos 1980, a Volkswagen é alvo de denúncia de centrais sindicais ao Ministério Público Federal (MPF) por sua participação em atos de repressão cometidos durante a ditadura militar. A representação foi entregue nesta semana ao MPF de São Paulo.
A Volkswagen é uma das empresas citadas no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, criada para apurar violações de direitos humanos ocorridas entre setembro de 1946 e outubro de 1988. Segundo o texto, divulgado em dezembro de 2014, documentos comprovam a cooperação da empresa com órgãos policiais de segurança do DOPS. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na época sindicalista, era monitorado no interior da fábrica da multinacional, em São Bernardo do Campo. O relatório traz ainda depoimentos de funcionários que dizem ter sido agredidos e presos dentro da fábrica.
De acordo com Atnágoras Lopes, da secretaria executiva nacional da CSP-Conlutas, a ação não tem como objetivo buscar indenização individual a funcionários que tenham sofrido ações repressivas dentro da empresa. “A luta é por uma condenação que tenha um retorno coletivo para a sociedade brasileira”, diz. “Atitudes como essa mantêm viva a nossa luta contra a punição repressiva e a falta de liberdade”. Mais de dez entidades assinam a representação contra a empresa; dentre elas a Central Única dos Trabalhadores, a Força Sindical e a CSP-Conlutas.
Punição. Após receber a denúncia, o Ministério Público Federal analisa a documentação entregue e decide se irá ou não entrar com uma ação contra a empresa. Segundo Antônio Carlos Malheiros, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e professor da PUC-SP, o órgão tem optado por investigar denúncias de violações de direitos ocorridos na ditadura militar.
Malheiros destaca que, por causa da Lei da Anistia, dificilmente a empresa sofrerá qualquer punição, ainda que o MPF investigue a denúncia. “Hoje não vejo possibilidade de punição, mas entendo que é necessário fazer uma investigação, ainda que para fins declaratórios, para esclarecer o que houve”, afirmou. Para o desembargador, ações do tipo são importantes por fazerem um resgate da história do brasil.
Outras empresas. O relatório da Comissão Nacional da Verdade indica que outras empresas apoiavam o regime militar no Brasil. Multinacionais, inclusive, ajudaram a financiar a formação da Operação Bandeirante (Oban), centro de informações em São Paulo que capturava e interrogava suspeitos de subversão. Os grupos Ultra, Ford, General Motors e Camargo Corrêa estão entre os citados, assim como Nestlé, General Eletric, Mercedes Benz, Siemens e Light. Centrais sindicais devem entrar com representações junto ao MPF para que a participação dessas empresas também seja investigada.
Procurada desde a quinta-feira, 24, a Volkswagen não se manifestou até a publicação da notícia.