A ArcelorMittal Aços Longos vai desligar em agosto um de seus laminadores em Piracicaba, no interior de São Paulo, e reduzir sua capacidade produtiva de aços longos em 500 mil toneladas anuais, anunciou ontem o presidente da área para as Américas Central e do Sul, Jefferson de Paula.
O executivo informou que, por conta da medida, discute atualmente com os sindicatos a possibilidade de suspender temporariamente contratos de trabalhadores em esquema conhecido como “layoff”.
A capacidade total de aços longos do grupo, que é o maior dentre as siderúrgicas globais, é de 3,6 milhões de toneladas por ano no Brasil. O desligamento, portanto, levaria esse volume para 3,1 milhões de toneladas. Além da máquina em Piracicaba, o executivo comentou, após palestra no último dia do Congresso Brasileiro do Aço, que mais 300 mil toneladas de produção podem ser reduzidas no ano, a depender de sua colocação ou não no mercado internacional.
De Paula alertou também sobre a possibilidade de parar o novo laminador da companhia na usina de João Monlevade, em Minas Gerais, que demandou investimentos de US$ 270 milhões. A depender do desempenho do mercado interno, ele informou que vai aproveitar o período de testes da máquina, que durará mais um mês e meio no máximo, para tomar uma decisão sobre o que fazer a respeito. Parte da produção cortada no país pode ser transferida para o local. Segundo ele, o equipamento pode ficar desligado por “um a dois anos”.
Tema mais recorrente durante o Congresso Brasileiro do Aço, as importações chinesas foram apontadas como a maior ameaça ao mercado brasileiro. Dados divulgados pelo Instituto Aço Brasil, organizador do evento realizado em São Paulo que terminou ontem, mostram que o produto estrangeiro empurrou nos últimos anos a fabricação nacional para outros países.
A proporção do aço estrangeiro no consumo aparente – que agrega vendas internas e importações – foi de 11,5% em maio de 2003, menor patamar dos últimos 30 meses, para 22% em abril deste ano, quando chegou a nível mais alto do período. A alta de janeiro de 2013 a junho de 2015, quando as importações somaram 329,9 mil toneladas, foi de 18,7%.
Na mesma comparação, o consumo no Brasil recuou 11,8%, para 1,8 milhão de toneladas. Mas se em semestres anteriores houve, de fato, um excedente de oferta, desde a segunda metade do ano passado a demanda interna superou a quantidade colocada no mercado doméstico.
Entre janeiro e junho de 2015, a fabricação do aço, de 17,1 milhões de toneladas no total, superou o consumo aparente em 5,4 milhões de toneladas. Mas se forem excluídas da conta as vendas das usinas brasileiras ao exterior, há, na verdade, um “excesso de demanda” de 427 mil toneladas. Isso porque no mesmo período as exportações totalizaram 5,8 milhões de toneladas. A quantidade supera a observada no segundo semestre de 2014 em 4,4% e em 52,4% o patamar da primeira metade do ano passado. Em junho, a siderurgia brasileira exportou 50,5% do que produziu.
O movimento, além de ser ajudado pela redução do uso de capacidade para cerca de 69% em média, é fruto dos esforços das companhias em oferecer aço de maior qualidade a países da Europa e da América do Norte, mas também da desvalorização do real frente às principais moedas globais. Ainda assim, a reclamação durante todo o congresso do Aço Brasil foi de que a moeda brasileira tem de cair mais para garantir competitividade às siderúrgicas nacionais.
Um patamar considerado bom para o câmbio, a fim de estimular mais exportações, ficaria entre R$ 3,40 e R$ 3,50 ante o dólar, segundo a maioria dos participantes do evento. Benjamin Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi o primeiro a dizer que uma depreciação do real para ajudar as vendas ao exterior seria o caminho mais rápido e fácil para ajudar na retomada do crescimento econômico brasileiro. Marco Polo de Mello Lopes, do Aço Brasil, lembrou que a China é o perigo mais palpável, tendo sobrecapacidade de cerca de 417 milhões de toneladas.