Aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) emprestaram, em junho, o equivalente a R$ 104,7 milhões, só no Grande ABC.
O montante supera em 25,5% o total de crédito consignado tomado no mesmo mês do ano passado, quando foram concedidos R$ 83,4 milhões. O volume de contratos assinados, porém, manteve-se praticamente estável, com queda de 0,7%, totalizando 20.538 transações.
Os dados foram levantados a pedido do Diário para o INSS, que não disponibilizou as concessões por cidade.
Na avaliação de Ewander Cezar Moraes, assessor da diretoria da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, um dos motivos que estimularam a tomada de recursos emprestados é a crise financeira. “Com a maior seletividade dos bancos para conceder crédito, os parentes recorrem àqueles que recebem benefício do INSS para conseguir levantar o dinheiro. Muitas dessas pessoas, inclusive, estão desempregadas, o que eleva e muito o risco da inadimplência dos aposentados e pensionistas.”
O consignado para os segurados do INSS tem o desconto das parcelas realizado diretamente no benefício da Previdência Social, seja aposentadoria ou pensão. Por esse motivo, e a garantia do pagamento, as taxas são geralmente as mais baixas do mercado, girando em torno de 2% ao ano. Segundo última pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) disponível, em maio, a taxa média de juros para pessoa física estava em 6,87% ao mês.
Segundo Moraes, além de emprestar para o filho e o neto, às vezes o empréstimo é feito para o próprio aposentado, que se enrola em suas dívidas. “Desde o fim do ano passado, quando o governo ampliou de 60 para 72 o número máximo de parcelas do consignado, muita gente, que até então não conseguia fazer caber no bolso a prestação do financiamento, passou a conseguir com mais 12 meses.”
COMPROMETIMENTO – O único critério levado em conta para o banco liberar o empréstimo consignado é o percentual de comprometimento do benefício do aposentado ou pensionista, de no máximo 30%. Mas isso foi alterado na segunda-feira. Foi publicado no Diário Oficial da União ampliação para 35% do total da renda, sendo que esses cinco pontos percentuais adicionais valem apenas para pagar dívidas do cartão de crédito. “A situação do segurado, que já é complicada, pelo fato de ganhar pouco, vai ficar ainda mais difícil. Para ele isso não é bom, pois se compromete além do que consegue pagar, já que tudo para ele é mais caro, como convênio médico e os gastos com medicamentos”, diz Moraes.
A avaliação é a mesma do educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da DSOP Educação Financeira. “Por mais que em um primeiro momento essa medida possa parecer benéfica, existe grande risco, pois isso só levará aposentados e pensionistas a se endividarem ainda mais. Uma pessoa que compromete 35% de sua renda com dívidas antes mesmo de receber o benefício só tenderá a ampliar o problema, com um efeito bola de neve.”
Domingos alerta que, antes de assinar o contrato, é preciso pesquisar pela menor taxa de juros. Se encontrar depois de já ter contraído o crédito, vale buscar a portabilidade. “Mesmo com taxas baixas, a cada ano, os juros representam 25% do valor total financiado. Por exemplo, para R$ 1.000 emprestados, são pagos R$ 250 de juros por ano. Por isso, é preciso pensar bem antes, para que o aliado não se transforme em vilão.”