De agosto para setembro a inflação acumulada em um ano subiu de 0,9% para 1,2%, em média, nos 35 países da OCDE
Quem só reclama da inflação quando vai às compras e quando tem de pagar as contas mensais, como as de luz e água, é um otimista ou desconhece o tamanho do problema. O persistente aumento de preços prejudica o brasileiro também de outras formas. Por isso, há muito mais motivos para preocupação quando se vê a diferença entre a situação no Brasil e o cenário na maior parte das economias, tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento. De agosto para setembro a inflação acumulada em um ano subiu de 0,9% para 1,2%, em média, nos 35 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), puxada principalmente pelos preços da energia. No Brasil houve um recuo, mas de 9% para 8,5%. Se tudo andar muito bem, a taxa acumulada no fim do próximo ano estará perto de 4,5%, ainda muito acima dos padrões observados nos outros países.
Além de sacrificar o trabalhador, desarranjando o orçamento familiar, a inflação pode afetar severamente o poder de competição internacional e dificultar a criação e até a manutenção de empregos. Isso ocorre quando os preços aumentam mais velozmente no país do que no exterior, daí resultando um descompasso entre os custos internos e externos.
Se a diferença persiste, o câmbio fica desajustado, prejudicando a exportação e facilitando a importação. Se a autoridade intervém e corrige o câmbio, um dos efeitos é a realimentação da alta de preços. Os brasileiros deveriam conhecer bem esse efeito. Durante anos vigorou no País uma política de ajuste frequente do câmbio por meio de pequenas desvalorizações. O benefício cambial produzido por esse tipo de correção era em pouco tempo corroído pelo novo impulso inflacionário.
Empresários, pelo menos os grandes, deveriam conhecer todos esses males – além, é claro, da dificuldade maior de planejar e de formular previsões num ambiente de ampla instabilidade de preços. Mas dificilmente falam contra a inflação. Em vez disso, com frequência reclamam da política de juros do Banco Central, usada como instrumento anti-inflacionário, e vivem cobrando maior desvalorização cambial. Isso equivale a concentrar a artilharia no alvo errado, como percebe qualquer pessoa com algum conhecimento de economia.
Mas tem sido esse o padrão dominante do discurso empresarial. Talvez o empresariado sofra menos com a inflação, por ser mais capaz de repassar seus aumentos de custos para os preços, uma vantagem fora do alcance das famílias. Mas, se esses mesmos empresários estivessem mais preocupados com os padrões internacionais de custos, de eficiência e de competitividade, dariam atenção muito maior à inflação. Nesse caso, cobrariam das autoridades maior empenho e resultados melhores na contenção dos aumentos de preços, em vez de viver reclamando da política do Banco Central.
Em setembro, a inflação interanual bateu em 1,2% na média dos países da OCDE e em 0,4% na zona do euro e na União Europeia. Nos Estados Unidos, passou de 1,1% e no período encerrado em agosto para 1,5% nos 12 meses terminados em setembro. Na China, aumentou de 1,3% para 1,9% e diminuiu de 5,3% para 4,1% na Índia, atualmente a campeã mundial de crescimento. Na Rússia, havia chegado a 15,7% em setembro de 2015, mas já caiu para 6,4%, taxa parecida com a da África do Sul, 6,5%.
Todos esses países são importantes para o Brasil, tanto como compradores quanto na condição de concorrentes em vários segmentos de comércio. Na América Latina, a posição brasileira também é desvantajosa. Nos 12 meses terminados em setembro, a inflação ficou em 3% no México, 7,3% na Colômbia, 3,1% no Peru, 3,1% no Chile e 3,6% no Paraguai. Na Argentina, o governo está recompondo as estatísticas, falseadas na fase kirchnerista.
De modo geral, países com inflação menor que a brasileira – e com as contas públicas em melhor estado – têm crescido, enquanto o Brasil permanece numa recessão iniciada em 2014. Mesmo assim, muita gente continua falando como se ajuste fiscal e combate à inflação prejudicassem o crescimento econômico.
Fonte: O Estado de S. Paulo