Reunião em Montevidéu não trouxe consenso e haverá novas consultas.
Venezuelana disse que brasileiro e paraguaio ‘se esconderam no banheiro’.

Após um encontro marcado por tensões, nesta segunda-feira (11), em Montevidéu, os países do Mercosul não chegaram a um consenso sobre a passagem da presidência rotativa do bloco à Venezuela.

Em coletiva de imprensa, o chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa, o chanceler paraguaio Eladio Loizaga, o vice-chanceler argentino, Carlos Foradori, e o subsecretário para América Latina e Caribe da chancelaria brasileira, Paulo Estivallet, reconheceram que as diferenças persistem e que o tema será mais discutido com seus respectivos governos.

“Cada um dos países está mantendo sua posição”, disse Nin Novoa. “Demos um prazo até a próxima quinta-feira, para que se façam consultas necessárias entre todos os países”, acrescentou, indicando que as consultas passarão a “uma escala mais acima”, a dos presidentes.

O Mercosul é presidido pelo Uruguai desde o começo do ano, e a Venezuela deveria assumir o posto em julho, segundo a regra de rotatividade do bloco. A sequência dos países que ocupam o cargo é definida por ordem alfabética e a troca é semestral.

Mas a cúpula de julho foi suspensa, e o Paraguai solicitou uma reunião, realizada nesta segunda, para discutir a situação da Venezuela.

A chanceler venezuelana  Delcy Rodríguez, que também foi a Montevidéu, declarou a jornalistas que a reunião não aconteceu porque os representantes de Brasil e Paraguai “não quiseram dar as caras à Venezuela”. Ela chegou a afirmar que a presidência pro tempore seria passada do Uruguai à Venezuela nos próximos dias, no que foi desmentida pelas demais partes, como informa a agência AFP.

Rodríguez disse ainda que o chanceler paraguaio e o representante brasileiro para o encontro “se esconderam no banheiro”. “Se estivemos no banheiro foi porque a necessidade fisiológica nos chamou”, respondeu o ministro paraguaio.

Nin Novoa deixou claro que o bloco continua “discutindo” e “analisando” suas opções. A postura de seu país, atual presidente pro tempore do grupo, é favorável à passagem da presidência à Venezuela.

Já o Brasil quer que a passagem da presidência seja prorrogada até agosto. Na semana passada o chanceler José Serra foi a Montevidéu manifestar sua “preocupação” com a situação na Venezuela.

“A reunião reflete o comprometimento dos Estados que aqui estamos, com o fortalecimento do Mercosul, que é parte fundamental, integral, central, do nosso processo de integração e do processo de desenvolvimento de cada um de nós. Há umas questões bastante importantes e não há respostas fáceis, mas há o desejo que se chegue a conclusões. Viemos à reunião com um espírito construtivo, porque há questões fundamentais a respeito da passagem da presidência à Venezuela que nos parecem que não estão resolvidas. Estamos tomando em consideração porque como se disse, também, há diferentes interpretações sobre alguns dos fatos”, disse o representante brasileiro, Paulo Estivallet.

“Para o governo do Brasil está claro que há um problema de política na Venezuela. Há um problema que põe em dúvida se as credenciais neste momento para assumir a presidência são as que se esperam. Esperamos que ao longo dos próximos dias tenhamos uma evolução positiva, assim como esperamos também que se respondam as questões feitas a respeito do compromisso jurídico que cada país membro do Mercosul tem que ter”, afirmou.

O Paraguai afirmou reiteradamente que considera que o governo de Nicolás Maduro busca silenciar o parlamento venezuelano. “(Queremos que) aquele que nos representa tenha as credenciais exigidas pelo Tratado de Assunção”, reiterou nesta segunda-feira o chanceler paraguaio.

O presidente argentino, Mauricio Macri, também foi muito crítico sobre a situação na Venezuela. O governo venezuelano de Maduro “violou todos os direitos humanos e levou a fome e o abandono à população venezuelana. Por isso, precisam de um referendo, precisam de eleições o mais rápido possível”, disse ao jornal espanhol “ABC”.

A declaração, em que cada país reiterou sua posição e pediu o diálogo no interior do bloco, desmentiu as afirmações de Rodríguez à imprensa, garantindo que a passagem da presidência tinha sido acordada com o Uruguai.

Nin Novoa insistiu que essa decisão deve ser tomada por consenso.

Mercosul em crise
O Mercosul atravessa uma de suas piores crises após uma época difícil de relações comerciais entre os sócios do grupo, fundado em 1991.

A passagem da presidência pro tempore de seis meses, que segundo as normas do bloco corresponderia à Venezuela, que segue o Uruguai por ordem alfabética, se transformou em motivo de discussão e expôs as diferenças entre os governos.

A Venezuela entrou no bloco como membro pleno em 2012, em uma cúpula realizada naArgentina quando o Paraguai estava suspenso, depois do processo parlamentar que destituiu o então presidente Fernando Lugo.

O Congresso paraguaio era o único que não havia aprovado a entrada da Venezuela e seu voto era o único requisito restante para que Caracas se integrasse ao Mercosul.

Essa crise acontece em um momento delicado para o bloco regional, que relançou a negociação de um tratado de livre comércio com a União Europeia.