A inflação, os juros e o desemprego continuarão a infernizar os brasileiros no próximo ano, quando novos episódios da Lava Jato e outros escândalos tiverem ofuscado a prisão do senador Delcídio do Amaral.
Mas a realidade prosaica da crise econômica e da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ficou em segundo ou terceiro plano, na quarta-feira, e até nos jornais de quinta, quando as atenções se concentraram nas prisões determinadas pela Justiça e na reação dos políticos. Seria um erro enorme, no entanto, menosprezar o comunicado curto e sombrio distribuído pelo comitê enquanto os senadores discutiam como reagir à prisão de seu colega.
A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% já estava nas contas da maioria dos analistas. Mas a defesa de um aumento de 0,5 ponto por 2 dos 8 participantes da reunião confirmou a avaliação menos otimista: diante de pressões inflacionárias ainda fortes e da insegurança em relação às contas públicas, será muito difícil de evitar, nos próximos meses, uma nova alta dos juros, apesar dos efeitos indesejáveis e penosos de uma decisão desse tipo.
Sem perspectiva de melhora significativa das contas públicas em 2016, o aperto monetário, principalmente por meio dos juros, ainda será a principal forma de combate à alta de preços. A intervenção no câmbio poderá limitar a alta do dólar e seus efeitos nos preços internos. Mas isso prejudicará a recuperação da balança comercial e tornará mais difícil a reativação da indústria. A própria recessão, derrubando o emprego, poderá impor moderação aos salários, mas, até agora, a inflação continua vigorosa apesar da contração econômica.
A prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do governo, complica as negociações para aprovação das medidas de ajuste e as discussões do Orçamento de 2016. A nova previsão de receitas apresentada pelo senador Acir Gurgacz nessa quinta-feira, de R$ 1,426 trilhão, é um pouco mais animadora que a incluída na proposta original do Executivo. Mas o governo ainda batalha pela Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e por outras medidas, como a imposição de limite mais severo à remuneração do funcionalismo e o fim do abono permanência para servidores em condições de se aposentar.
A prisão do senador e as novas dificuldades políticas podem agravar os problemas do governo, mas a situação, antes disso, já era muito complicada. A decisão do Copom seria provavelmente a mesma, se o líder do governo tivesse continuado solto. A nota distribuída pelo comitê, formado por diretores do Banco Central, nem sequer menciona a política. O primeiro parágrafo diz o essencial: “Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por 6 votos a favor e 2 votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.”.
A conjuntura econômica obviamente inclui uma contração superior a 3% neste ano e mais uma de uns 2% no próximo. São essas as previsões do mercado. As perspectivas de inflação também são muito ruins, de acordo com os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central. De acordo com esses especialistas, os preços ao consumidor devem subir mais de 10% neste ano e mais de 6,5% em 2016. Nem mesmo em 2017 a meta de 4,5% será alcançada, segundo essas estimativas. Mas a conjuntura considerada no comunicado certamente é afetada também pelas incertezas sobre as contas públicas.
Antes da reunião do Copom o mercado havia elevado de 13,25% para 13,75% a taxa final da Selic em 2016. A expectativa de redução dos juros vem sendo abandonada. A nota do Copom acrescenta outra possibilidade. Notas anteriores incluíram referência à manutenção da Selic em 14,25% por tempo suficiente para conduzir a inflação para a meta. Não haveria, portanto, redução a curto prazo. Agora, a omissão dessa frase, somada aos dois votos divergentes, reforça uma nova hipótese, se a insegurança perdurar. Essa nova hipótese é de aumento de juros em 2016.