Represas operam com 31,2% da capacidade.
Outros quatro sistemas tiveram elevação de nível.
O nível de água do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento da população da região metropolitana de São Paulo, subiu pelo quarto dia seguido em 2016. Nesta segunda (4), ele subiu de 30,8% para a 31,2% do total da sua capacidade. Os dados foram divulgados nesta manhã pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
A chuva registrada em janeiro é de 36,6 mm, o equivalente a 13,9% do esperado para todo o mês.
No dia 30 de dezembro de 2015, o Sistema Cantareira registrou elevação e se livrou da dependência do volume morto após 19 meses.
Outros quatro sistemas que contribuem para o abastecimento da população no estado de São Paulo também tiveram elevação nas suas capacidades. O Sistema Rio Grande foi o único que perdeu água.
Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, alertam que o Cantareira ainda segue em crise porque não se recuperou totalmente. A Sabesp também informou que não descarta voltar a usar a reserva técnica no próximo período seco, com a chegada do inverno.
A chuva acima da média nos últimos meses acelerou o processo e as represas acumularam mais água por causa da precipitação intensa e entrada de água no manancial.
Dezembro registrou 259,4 mm de chuva e a média histórica para o mês é de 219,4 mm. Mesmo assim, a crise ainda não acabou nos reservatórios do estado operados pela companhia na Grande São Paulo, já que o sistema ainda vive uma “restrição hídrica”, segundo informou a assessoria de imprensa da Sabesp.
Segundo boletim divulgado pela Sabesp nesta segunda, o nível de água do sistema chegou a 31,2%, índice que considera o volume acumulado em relação ao volume útil. Após uma ação do Ministério Público (MP), aceita pela Justiça, a Sabesp passou a divulgar outros dois índices do Cantareira.
O segundo índice, que está em 24,1%, leva em consideração o volume armazenado na capacidade total, incluída a área do volume morto. O terceiro índice leva em consideração o volume armazenado menos o volume morto na área total dos reservatórios, e estava em 1,9% nesta manhã.
O Cantareira chegou a atender 9 milhões de pessoas só na Região Metropolitana de São Paulo, mas atualmente abastece 5,4 milhões por causa da crise hídrica que atingiu o estado em 2014. Os sistemas Guarapiranga e o Alto Tietê absorveram parte dos clientes, para aliviar a sobrecarga do Cantareira durante o período de estiagem.
Leia abaixo mais questões sobre o volume morto e a crise hídrica em São Paulo.
O QUE É O VOLUME MORTO
O volume morto é uma reserva com 480 bilhões de litros de água situado abaixo das comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em maio de 2014, bombas flutuantes começaram a retirar essa água. A decisão de fazer essa captação foi tomada por causa da crise hídrica que atingiu o estado de São Paulo no ano passado.
O governo do estado tentou fazer desvios para usar a água de outras represas, mas essas manobras não foram suficientes para atender toda a população da Região Metropolitana de São Paulo. Após o nível do sistema atingir um patamar preocupante, a Sabesp começou a fazer obras para conseguir bombear a água do volume morto.
CRONOLOGIA DO VOLUME MORTO
– 15/05/2014: bombas flutuantes para retirada da primeira reserva técnica são inauguradas.
– 16/05/2014: 182,5 bilhões de litros de água são disponibilizados para abastecimento da Grande São Paulo. Mesmo assim, a sequência de quedas no nível das represas continua.
– 11/07/2014: volume útil do Cantareira acaba e o abastecimento de parte da Região Metropolitana de São Paulo atendida pelo Cantareira é feito somente com a primeira cota.
– 24/10/2014: Sabesp consegue autorização para usar uma segunda cota do volume morto, com 105 bilhões de litros.
– 24/02/2015: segunda cota do volume morto é recuperada, mas a Sabesp ainda depende da primeira cota do volume morto para garantir o abastecimento de 5,4 milhões de pessoas atendidos pelo Cantareira na Grande São Paulo.
– 30/12/2015: sistema consegue recuperar as duas cotas do volume morto e volta a operar apenas com o volume útil.
SAÍDA ANTES DO ESPERADO
O término do uso do volume morto ocorre antes do esperado pela Sabesp. A companhia de abastecimento havia previsto que o sistema operasse com a reserva técnica até o fim do verão, mas a chuva acima da média nos últimos meses acelerou o processo e as represas passaram a acumular mais água por causa da precipitação intensa e afluência dos rios que desaguam no reservatório.
A companhia de abastecimento diz que usa cenários afluência e pluviometria desde 1930 e que em apenas dois deles não seriam registrados índices de chuva para que o manancial deixasse a reserva técnica até abril. Para fevereiro, a probabilidade de saída do volume morto era de 85%, segundo a Sabesp.
No mês de novembro de 2015, o sistema registrou 197,6 milímetros de chuva, 23,1% acima da média histórica, de 160,4 mm. O volume fica atrás apenas do verificado em 2009, quando a precipitação total no conjunto de represas, considerando os 30 dias do mês, foi de 237,6 milímetros.
Nesse mesmo período, o El Niño ganhou força e teve impactos no Brasil, como temporais no Sul e seca no Nordeste. Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, divergem sobre a influência do fenômeno climático para ajudar São Paulo a sair da crise hídrica antes do esperado.
Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), estatisticamente não há uma relação entre o El Niño com as chuvas no Sudeste.
“Talvez a única relação que temos, nós pesquisadores, é que durante os anos do El Niño as chuvas no Sudeste ficam longe da normalidade”, afirmou. O meteorologista explica que São Paulo teve novembro e dezembro mais chuvosos, o que não significa que janeiro e fevereiro seguirão a mesma tendência porque o El Niño pode oscilar entre períodos mais secos e mais chuvosos.
Já uma pesquisa inédita sobre impacto do El Niño nos índices de chuva, feita pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Inpe e divulgada em novembro, apontou que a ocorrência de tempestades na região Sudeste no verão deve ser 20% maior em relação aos anos anteriores. O auge dos temporais deve ocorrer na primeira quinzena de fevereiro.
“O estudo verificou quando ocorre o evento El Niño muito intenso, os efeitos do aumento das tempestades não ficam restritos à região Sul, e se estende ao Sudeste e ao Mato Grosso do Sul”, explicou o coordenador do Elat/Inpe, Osmar Pinto Junior. A causa das tempestades – chuvas de forte intensidade e de curta duração – é uma combinação de temperaturas mais altas, circulação atmosférica que mais sistemas frontais que chegam à Região Sudeste.
RECUPERAÇÃO TOTAL VAI DEMORAR
Apesar da recuperação do volume morto, especialistas alertam que a crise hídrica não está totalmente resolvida em São Paulo. Antes da estiagem que atingiu o estado, o Cantareira operava com cerca de 48% da capacidade nesta mesma época em 2012 e com 67% em 2011. A preocupação é com o período de seca, que retorna a partir de abril.
“Não é um verão que vai resolver. (O El Niño) Pode ajudar a amenizar e recuperar a reserva técnica, mas a recuperação dos reservatórios é mais a médio e longo prazo, não vai ter uma recuperação rápida”, afirmou ao G1 o meteorologista do CGE, Michael Pantera, no início de dezembro.
Os especialistas explicam que, por causa do solo muito seco, a tendência é que a água das primeiras chuvas do verão seja totalmente absorvida, como um “efeito esponja”, antes de serem armazenadas nos lençóis freáticos e armazenadas nas represas.
Para ter uma ideia mais clara do tempo de recuperação, os pesquisadores dizem que precisam esperar a duração do atual El Niño, previsto para perder força a partir de abril, e aguardar qual será o comportamento do clima na região Sudeste quando o fenômeno acabar. Somente depois disso, será possível prever se há risco de nova estiagem severa no estado.
“Se tivermos os próximos três anos como o que estamos tendo agora, ficaríamos numa situação um pouco mais tranquila. Mas isso não significa que estejamos longe de uma nova crise. Se essa mudança no comportamento dos consumidores for permanente, a gente teria uma ‘folga’ no sistema”, afirmou o professor da USP e Uninove, e especialista em recursos hídricos, Pedro Luiz Côrtes.
De qualquer forma, Côrtes faz um alerta. “A gente pode sair do volume morto, acumulamos algo, mas isso é insuficiente para deixarmos de entrar novamente no volume morto. Isso, de qualquer forma, já é um indicio de recuperação”, explicou. Sem levar em conta as obras de infraestrutura, o especialista prevê uma recuperação do Sistema Cantareira em até oito anos.
A Sabesp também defende que a recuperação do reservatório será lenta e não descarta a possibilidade de voltar a usar o volume morto no próprio período seco, que começa em abril. A companhia disse, por meio da assessoria de imprensa, que a reserva técnica dá tranquilidade para garantir o abastecimento e afirma que a chuva nos próximos meses vai indicar como será o ritmo da recuperação do sistema.
TRANSFERÊNCIA DE CLIENTES
A Sabesp afirmou que, gradualmente, o Cantareira poderá retomar os clientes que foram transferidos para outros reservatórios e que isso será possível por causa da interligação dos sistemas, que já foi feita. Ainda segundo a companhia, o Cantareira, assim como os outros reservatórios, levará um tempo para recuperar a falta de chuva dos últimos dois anos.
A transferência de clientes de um manancial ao outro depende da autorização da Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) de São Paulo.
REDUÇÃO DE PRESSÃO
Além do volume morto, a Sabesp decidiu intensificar a redução de pressão na rede de distribuição de água. Em janeiro de 2015, a companhia admitiu, pela primeira vez desde o início da crise hídrica, que toda a Grande São Paulo estava com redução de pressão. Após um pedido da Justiça, a empresa divulgou um mapa das áreas afetadas
Na época, a Sabesp afirmou que a redução ocorria “preponderantemente durante a noite/madrugada, período em que grande maioria da população dorme e as atividades econômicas praticamente inexistem”. Se o imóvel tiver caixa d’água, a redução da pressão na rede não é percebida, disse a Sabesp.
A realidade vivida pelos moradores, no entanto, foi outra. Muitos clientes da Sabesp relatam, até hoje, cortes na distribuição de água por até três dias. O G1 acompanhou as alternativas encontradas por famílias de São Paulo para enfrentar as torneiras secas (leia no blog Como Economizar Água os relatos dos moradores ao repórter Glauco Araújo).
Segundo a assessoria de imprensa da Sabesp, a redução de pressão pode ser amenizada nos próximos meses, mas que a decisão depende do volume de chuva que será registrado neste verão.
BÔNUS FICA MAIS DIFÍCIL
A Sabesp decidiu prorrogar, pelo menos até dezembro de 2016, o programa de desconto na conta de água para os clientes da Grande São Paulo que conseguirem reduzir o consumo. As regras, no entanto, vão mudar e ficará mais difícil para os consumidores obterem o bônus na fatura, segundo as normas aprovadas pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).
Até o fim de 2015, o CMR correspondia à média de consumo no período fevereiro 2013 a janeiro 2014. O novo CMR, para efeito de aplicação de bônus, será calculado pela multiplicação do antigo CMR por 0,78.
A companhia de abastecimento disse que constatou que houve redução no consumo de 22% no período de análise mais recente, de outubro de 2014 a setembro de 2015. Por isso, a empresa reajustou as médias de consumo nessa mesma proporção.
Os níveis de economia para obter o bônus, porém, permanecem os mesmos. Os imóveis que economizarem entre 10% e 15% o consumo de água têm desconto de 10% na conta. Os que diminuírem o gasto entre 15% ou 20% recebem bônus de 20%. Já as residências que economizam 20% ou mais recebem desconto de 30% na conta de água.
Já as regras para a aplicação da tarifa de contingência – que é a cobrança de multas de clientes que aumentarem o consumo – não será alterada, mas também continuará até o fim de 2-16. O cálculo continuará a ser feito em relação à média de consumo entre fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. As residências que consomem até 20% além da média pagam conta 40% mais cara. Já as que excederem os gastos em mais de 20% recebem multa de 100% no fim do mês.
“É importante a economia porque, embora estejamos saindo do volume morto, precisa recuperar mais ainda os reservatórios. A boa notícia é que em 2017 vamos ter um novo sistema de abastecimento, que é o São Lourenço, vai ser o 8º sistema de abastecimento para a Região Metropolitana de São Paulo. Está todo em obra, com 3 mil pessoas trabalhando”, disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) inauguração de uma unidade do Detran na cidade de Franca (SP), na terça-feira (29).