Seis partidos em formação são presididos por reservistas; líder do Defensores explica descontentamento com atual gestão
O processo de coleta de assinaturas do Defensores ocorre paralelamente em 14 estados. As fichas ainda não foram reunidas e contabilizadas em conjunto, por isso não há como precisar o número de adesões.
A expectativa, segundo Xavier, é oficializar o partido a tempo de compor uma chapa presidencial em 2022.
“Estamos aquecendo as turbinas, e os próximos três meses serão de muito trabalho”, diz o cabo.
Ao Brasil de Fato, o líder do Defensores não menciona quem poderia ser o nome lançado pelo partido à Presidência da República. Conforme informações veiculadas em julho pela rádio 98 FM, de Belo Horizonte (MG), o mais cotado é Átila Maia, brigadeiro da Força Aérea. A patente é equivalente à de general no Exército.
Maia, que se apresenta em suas redes como presidenciável, foi secretário-executivo do Ministério da Pesca em 2012 e candidato a senador pelo PRTB no Distrito Federal em 2018 – declarou ter investido apenas R$ 1,5 mil na campanha e fez 135 mil votos.
Onde moram as divergências
Em 2014, Bolsonaro gravou um vídeo ao lado do cabo Washington Xavier pedindo apoio à criação do PDS. Na época, debatia-se a possibilidade de lançá-lo como candidato à Presidência em 2018.
“O presidente, no meu ponto de vista, se afastou dos princípios que o levaram a vencer a eleição. Esperava-se muito dele”, reconhece o líder o Defensores.
“Na campanha, Bolsonaro prometeu que suas reformas não afetariam a população mais carente. Porém, elas visaram atender e privilegiar determinados grupos.”
A decepção não é de hoje. A reforma da Previdência, em 2019, somada ao fim da operação Lava Jato, em 2020, frustrou particularmente os militares com patentes mais baixas.
“A própria família Bolsonaro usou o privilégio do modelo anterior de aposentadoria. Então, quem propôs a reforma [da Previdência] não sente os efeitos dessa mudança”, lembra.
“Nós, praças das polícias estaduais, passamos de 30 a 35 anos de tempo de serviço [para aposentadoria]. É um absurdo, é desumano, considerando toda a tensão, os problemas de saúde, psicológicos e fisiológicos associados à profissão.”
Apesar das críticas pontuais, o Defensores é conservador nos “costumes” e liberal na economia. No processo de mudança de nome, a palavra “Social” foi excluída intencionalmente, para desvincular a agremiação da esquerda – conforme declaração de seu presidente ao jornal O Tempo.
Logo no primeiro parágrafo do estatuto, constam expressões que localizam o partido ideologicamente: “mulheres e homens de bem”, sob as “bênçãos de Deus”. O mesmo texto cita que “o Defensores tem como espectro ideológico o Pragmatismo Político.”
Xavier explica que não há discordância sobre as privatizações do governo Bolsonaro, por exemplo. Porém, a avaliação é de que o conjunto da política econômica beneficia o capital estrangeiro e prejudica os empresários locais.
“Temos que privilegiar a indústria nacional, para não nos tornarmos escravos do investimento estrangeiro. Porque quem investe quer retorno, e esse retorno não vem sendo reinvestido no Brasil”, critica o militar da reserva.
“A política econômica adotada pelo ministro Paulo Guedes tem elevado a inflação, sufocado as pessoas mais pobres, colocado milhões na linha de miséria. O que está sendo feito pelo governo é favorecer os grandes bancos”, acrescenta.
No ano passado, os investimentos estrangeiros no Brasil caíram ao menor nível em duas décadas. A redução foi de 62%, a mais expressiva do continente, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os bancos privados continuaram lucrando na crise, apesar da diminuição do nível de renda da população. [Continua após o vídeo.]
O líder do Defensores avalia que o auxílio emergencial foi importante na pandemia, mas se refere ao Auxílio Brasil como uma “compra de votos indireta para a reeleição”, reforçando o “encabrestamento” dos eleitores.
“Nesse sentido, ele está fazendo pior do que o governo anterior, que tanto criticou. Sou a favor da política social, mas atrelada ao desenvolvimento humano, à independência e à elevação da pessoa”, ressalta.
Xavier também questiona a dificuldade imposta para liberação de crédito a pequenos e microempresários, além dos cortes de orçamento em áreas como educação e tecnologia.
“Criou-se uma guerra ideológica e esqueceram de governar para todos”, acrescenta o militar da reserva, que já foi derrotado em duas eleições – para deputado federal em 2018, e prefeito de Belo Horizonte em 2020.
“Tem muitos colegas que ainda não acordaram, mas acredito que logo vão acordar”, finaliza.
Edição: Vinicius Segalla
Daniel Giovanaz/BF