O governo anunciou investimentos da ordem de US$ 17,5 bilhões em projetos de descarbonização com o apoio do Acelerador de Transição Industrial (ITA) e do (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC)). Esse valor representa um esforço significativo para reduzir as emissões e atrair investimentos sustentáveis.
O ITA é uma iniciativa global fruto da COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), lançada em dezembro de 2023 em Dubai, e é financiado pela Bloomberg Philanthropies e pelos Emirados Árabes Unidos. O Brasil foi o primeiro país a firmar parceria com o ITA, demonstrando seu protagonismo na transição industrial verde.
A descarbonização é o processo de redução e eliminação da emissão de gases de efeito estufa (GEE), principalmente do dióxido de carbono (CO2), da atmosfera.
Projetos e Setores Beneficiados
Esses investimentos estão focados em uma variedade de setores estratégicos, incluindo:
Alumínio: Desenvolvimento de tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) e eletrificação de caldeiras.
Aviação: Produção de combustíveis renováveis, como o combustível de aviação sustentável (SAF) e o diesel renovável (HVO), a partir de fontes como o óleo de macaúba.
Cimento: Implementação de tecnologias de gaseificação para utilizar resíduos como fonte de energia, reduzindo as emissões.
Energia Limpa e Hidrogênio Verde: Projetos que visam o uso doméstico de hidrogênio verde para aplicações industriais (como o aço verde) e o estabelecimento de corredores de transporte verde.
Fertilizantes: Iniciativas para a produção de fertilizantes mais sustentáveis.
Além do MDIC, o ITA também colabora com outras instituições, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), para viabilizar o financiamento dos projetos.
O objetivo é que esses investimentos não apenas acelerem a descarbonização da indústria brasileira, mas também permitam o desenvolvimento de soluções personalizadas que possam ser replicadas em escala global.
Descrição dos projetos:
O projeto Solatio H2 Piauí desenvolveu 14 GW de energias renováveis em uma estrutura verticalizada para abastecer uma planta industrial de hidrogênio e amônia verde em desenvolvimento com capacidade total de 3 GW. A capacidade de produção atingirá 2,2 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de amônia verde até 2030. O investimento previsto é de R$ 27 bilhões.
A Acelen Renováveis está desenvolvendo um projeto para produzir combustíveis renováveis avançados a partir do óleo de macaúba. A empresa desenvolverá um negócio integrado, da semente ao combustível, compreendendo um centro de pesquisa e desenvolvimento e germinação com capacidade para produzir 10,5 milhões de mudas por ano, uma plantação de macaúba de 180 mil hectares, cinco usinas de moagem para extrair o óleo e coprodutos da macaúba, e uma biorrefinaria para processar o óleo de macaúba em combustível. O projeto de US$ 3 bilhões visa produzir 1 bilhão de litros de combustíveis renováveis por ano, incluindo combustível de aviação sustentável (SAF) e diesel renovável (HVO).
A Votorantim Cimentos planeja reativar uma linha de argila calcinada de 0,32 Mt/a em sua fábrica de cimento em Nobres, no Mato Grosso, o que permitiria ao local aumentar o uso de argila calcinada como substituto do clínquer de alta intensidade de emissões e reduzir as emissões do cimento final produzido em até 16%.
A Mizu Cimentos busca instalar unidades de pirólise em sua unidade de 1Mt/a em Aracajú, visando produzir energia a partir de biomassa residual para substituir o uso de combustíveis fósseis no local. Quando totalmente implementado, o projeto poderá reduzir as emissões da produção de cimento em até 32%.
O Consórcio Eco Fusion reúne as empresas Argo Tech, Apodi Cimentos, CTEC e Self Energy para instalar gaseificadores na fábrica de cimento da Apodi em Quixeré, no Ceará, produzindo energia a partir de resíduos como substituto do uso de combustíveis fósseis. A primeira fase do projeto visa instalar um gaseificador inicial, e as fases subsequentes envolverão a instalação de unidades adicionais, permitindo uma redução de emissões de até 10% por tonelada de cimento.
A Alcoa pretende enfrentar uma das principais fontes remanescentes de emissões na cadeia de valor do alumínio brasileiro atualmente: a geração de calor para o refino de alumina. Seu projeto visa eletrificar as caldeiras da Alumar, em São Luís, no Maranhão, o que poderia reduzir as emissões da refinaria para tão pouco quanto 0,6 tonelada de CO₂ por tonelada de alumínio.
A CBA está trabalhando para reduzir as emissões de processo da fundição de alumínio por uma tecnologia pioneira de CCUS. A empresa visa aplicá-la em escala em sua produção de 0,43 Mt/a em alumínio para reduzir as emissões de seu alumínio líquido para menos de 2 t de CO₂ por tonelada de alumínio.
Atlas Agro: o projeto Uberaba Green Fertilizer (UBF), que corresponde à construção da primeira fábrica de fertilizantes nitrogenados a partir do hidrogênio verde no Brasil. A fábrica utilizará matriz 100% limpa, a partir de fontes renováveis para produção do hidrogênio verde, amônia verde e os fertilizantes nitrogenados com zero carbono. A fábrica evitará a emissão de mais de 1 milhão de toneladas de carbono equivalente anualmente para a atmosfera. A capacidade de produção será de 530.000 t/ano de fertilizantes para atender os clientes da região. Com capex previsto de R$ 4,3 bilhões, o projeto possibilita reduzir a pegada de carbono nas lavouras brasileiras entre 10 e 50%.
A European Energy está desenvolvendo a primeira fábrica em larga escala do Brasil para produzir metanol sintético a partir de hidrogênio verde (e-metanol) no Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco. A planta de aproximadamente US$ 344 milhões tem como meta uma capacidade de produção de 100.000 toneladas por ano e poderia evitar até 254.000 toneladas por ano de emissões de CO2e em comparação com a produção convencional de metanol.
O projeto Fortescue H2V está desenvolvendo uma instalação integrada de hidrogênio verde e amônia no Porto de Pecém, no Ceará, capaz de produzir 168.000t/a de hidrogênio (equivalente a 0,9 milhão de toneladas de amônia), com requisitos de investimento total de cerca de US$4 bilhões. Uma vez em operação, cada tonelada de hidrogênio produzida evitaria as cerca de 12 toneladas de emissões de CO2e normalmente associadas à produção dessa commodity.
O Green Energy Park está desenvolvendo uma unidade de produção e exportação de amônia verde no Piauí, cuja primeira fase tem como meta uma capacidade de exportação de 2,1 milhões de toneladas por ano e envolveria um investimento de aproximadamente US$ 4,5 bilhões. Após a conclusão dessa primeira fase, o projeto poderia evitar até 3,2 Mt de emissões de CO2e por ano em comparação com a produção convencional de amônia. O escopo do projeto inclui o uso doméstico de hidrogênio verde para aplicações industriais, como o aço verde, e o estabelecimento de um corredor de transporte verde para a Europa e outras partes do mundo.
Fontes: clickpetroleoegas, bnamericas e inforchannel