Depois, material deverá ser encaminhado para análise da Anvisa; só após aval é que eventual fase de teste em voluntários terá início
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação pretende concluir a fase pré-clínica da fosfoetanolamina sintética, que ficou conhecida como “a pílula do câncer” em sete meses. Esse é o tempo previsto para que sejam feitas as análises do produto, desenvolvido por pesquisados do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos.
O ministro do MCTI, Celso Pansera, informou que nesta terça-feira a pasta deverá solicitar à USP 500 gramas do produto, que serão analisados pelos laboratórios escalados para participar desta fase do programa. Paralelamente, a pasta vai pedir a rota de síntese da fosfoetanolamina depositada no Instituto Nacional de Produção Industrial (INPI), a “receita” do produto, para que ele seja preparado pelo Laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Para um controle melhor, a ideia é usar os produtos obtidos dessas duas formas na análise pré-clínica”, disse o ministro Pansera.
Concluída a fase pré-clínica, num período estimado em sete meses, o material deverá ser encaminhado para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Somente com o aval da autarquia reguladora é que uma eventual fase com testes em voluntários terá início. “Não há ainda um desenho feito, não sabemos quem seriam os potenciais pacientes”, disse o ministro.
Ele observou também não haver prazo para que uma eventual fase de testes com pacientes seja concluída. “Temos que aguardar, neste primeiro instante, os resultados da primeira fase.”
O governo vai destinar R$ 10 milhões para um estudo do produto, que durante anos foi distribuído para pessoas que acreditavam que ele teria ação terapêutica contra o câncer. Há dois anos, o fornecimento foi interrompido e, a partir daí, uma batalha judicial se formou. De um lado, pacientes insistindo no uso do produto, de outro, tribunais ora permitindo, ora negando o acesso.
“O grupo de trabalho foi formado para dar uma resposta à sociedade. Temos uma comoção em torno do assunto”, disse o ministro. Este ano, serão liberados para pesquisa R$ 2 milhões. Na primeira etapa testarão a droga, além da UFRJ, o Laboratório da Universidade Federal do Ceará e o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos, uma Organização Social.
O comitê escalado para acompanhar todas as fases do processo conta com integrantes do MCTI, do Ministério da Saúde e vários centros de pesquisa. A pedido de um dos pesquisadores que desenvolveu a substância na USP de São Carlos, o professor aposentado Gilberto Chierice, o governo vai convidar outras três instituições para acompanhar o andamento das pesquisas: Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Universidade de São Paulo e Instituto Butantã. Os trabalhos também serão acompanhados pela Academia Brasileira de Ciência, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Nacional de Medicina e Ministério Público e Defensoria Pública.
Os resultados do trabalho serão divulgados em um portal. “A ideia é dar transparência e permitir que a sociedade civil tenha acesso a todas as etapas.” O ministro observou que o uso do produto até agora desconheceu todo o rito necessário para o desenvolvimento de drogas: pesquisas com critérios claros, com análise de autoridades sanitárias para comprovação da sua segurança e eficácia.