Para BC, combater inflação não requer mais ‘determinação e perseverança’.
BC adotará ações para IPCA abaixo de 6,5% em 2016 e em 4,5% em 2017.
O Comitê de Política Monetária (Copom) adotou um tom mais suave na ata de sua última reunião, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros permaneceu estável pela quinta vez seguida em 14,25% ao ano, um indício de que a taxa Selic pode ser reduzida ainda neste ano – conforme aposta de parte dos analistas do mercado financeiro.
No documento, divulgado nesta quinta-feira (10), a instituição retirou a avaliação, que constava em atas anteriores, de que seriam necessários “determinação e perseverança” para impedir a transmissão de inflação corrente, que está em níveis elevados, para prazos mais longos. Esse trecho foi suprimido.
Copom dividido
Na reunião do Copom da semana passada, a opção por manter os juros estáveis não foi unânime. Dois diretores do Banco Central optaram por um aumento de 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano, mas foram voto vencido.
“Parte de seus membros argumentou que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação, reforçar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias e contribuir para deter a alta das projeções de inflação”, informou a instituição.
Entretanto, em seguida, acrescentou que a maioria dos membros do Copom considerou que as incertezas domésticas e, principalmente, externas, justificam continuar monitorando a evolução do cenário macroeconômico para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.
“Para estes membros, faz-se necessário continuar acompanhando o desenvolvimento nos ambientes doméstico e externo e seus impactos sobre o balanço de riscos para a inflação, o que, combinado com os ajustes já implementados na política monetária, pode fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017”, infrormou o Banco Central.
Incertezas e objetivo inflacionário
O Copom avaliou ainda que há incertezas associadas ao balanço de riscos, principalmente, quanto ao processo de recuperação dos resultados fiscais (obtenção de superávits primários pelo setor público) e sua composição, e que o “processo de realinhamento de preços relativos mostrou-se mais demorado e mais intenso que o previsto”.
“Adicionalmente, que remanescem incertezas em relação ao comportamento da economia mundial. Nesse contexto, o Comitê reitera que adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017”, informou a autoridade monetária.
Reafirmou ainda que, embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, a visão de que “cabe especificamente à política monetária [definição dos juros para conter a inflação] manter-se vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos”.
O BC informou ainda que decidiu manter os juros básicos da economia estáveis neste mês mesmo com o aumento de suas previsões de inflação tanto no cenário de referência (juros e câmbio estáveis) quando no de mercado – considerando as previsões dos economistas dos bancos para estas variáveis.
Segundo a instituição, as suas estimativas de inflação subiram para 2016 e 2017 e estão acima da meta central de inflação de 4,5%. Na ata anterior, de janeiro, o BC informava que sua projeção para 2017 estava “ligeiramente acima” da meta central de 4,5% no cenário de mercado.
Nível de atividade
O Copom avaliou ainda que há indicações de que o ritmo de expansão da atividade doméstica neste ano inferior ao previsto anteriormente. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) teve contração de 3,8% e, para 2016, a estimativa do mercado financeiro é de uma queda de 3,5%.
“Esse processo [nível de atividade fraco] está sendo especialmente intensificado pelas incertezas oriundas do efeito de eventos não econômicos. Em particular, o investimento tem-se retraído, influenciado, principalmente, pela ocorrência desses eventos, e o consumo privado também se contrai, em linha com os dados de crédito, emprego e renda”, avaliou.
Entretanto, para o Comitê, depois de um “período necessário de ajustes, que se tem mostrado mais intenso e mais longo que o antecipado”, à medida que a confiança de firmas e famílias se fortaleça, o ritmo de atividade tende a se intensificar.