Descaso do governo federal com a pandemia é revelado no Ministério da Saúde. O país chega a 100 dias sem ministro da pasta

 

O Brasil registrou 565 mortos por covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, nas últimas 24 horas de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Com o acréscimo, são 115.309 brasileiros mortes desde o início do surto, em março. Já o número de novos casos foi de 17.078, em um total de 3.662.861 brasileiros que já foram ou estão infectados pelo vírus.

Os números apresentam uma grande subnotificação, já que o Brasil é um dos países que menos testa para a covid-19 no mundo. Appenas 6% da população já passou por algum tipo de testagem. A defasagem é ainda maior às segundas-feiras, já que menos profissionais do setor de saúde trabalham aos domingos. A distorção é corrigida nos dias seguintes.

O Brasil vive há mais de 11 semanas com média próxima a mil mortes por dia pela covid-19; fato que coloca o país no epicentro da pandemia mundial, o país que ficou por maior tempo com este posto. Diferente de outros países que adotaram medidas de isolamento social efetivas, o poder público pouco, ou nada fez.

 

100 dias
Enquanto governadores e prefeitos adotaram medidas leves de isolamento, que foram suspensas de forma precoce, de acordo com cientistas, o governo de Jair Bolsonaro não tomou ações preventivas. Ao contrário, incentivou aglomerações, minimizou o vírus e ridicularizou mortes.

Outro fator que revela a má gestão da pandemia pelo governo federal é o descaso no Ministério da Saúde. O país chega a 100 dias sem ministro titular da pasta, mesmo em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos. O cargo é ocupado desde o dia 15 de maio, interinamente, por um militar, Eduardo Pazuello, que não possui formação em área médica.

Isolamento social
Os países com maior índice de sucesso no tratamento da covid-19 apostaram em isolamento social de fato, o que evitou mortes, encurtou o período de isolamento e manteve melhores condições que o Brasil de recuperar suas economias. Exemplos são Cuba, Coreia do Sul, Argentina e Nova Zelândia. Este último, decretou “lockdown” em uma de suas maiores cidades na última semana, após o registro de apenas novos quatro casos.

Para o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazonas Jesem Orellana, a estratégia de novas políticas de isolamento se mostram necessárias, ao menos pontualmente. Ele traz o exemplo de Manaus, que vive risco de uma segunda e letal onda da covid-19.

“É urgente que medidas de contenção da circulação viral sejam tomadas no estado, o que inclui efetivas restrições à circulação de pessoas em atividades consideradas não essenciais, considerável aumento na fiscalização de locais de aglomeração e aumento expressivo da testagem em massa, tratamento e/ou rastreamento de casos e seus contatos, bem como suspensão das aulas presenciais na rede pública e privada”, disse à RBA.

(Gabriel Valery/RBA)