Enquanto General Motors, Fiat e Volkswagen perderam terreno, as asiáticas Hyundai, Honda e Toyota ganharam 17 pontos de participação no mercado brasileiro
Mudanças significativas ocorreram no mercado automobilístico brasileiro nos últimos dez anos, além da queda drástica nas vendas em razão da crise econômica. A chegada de novos concorrentes, menor demanda por carros “populares” e maior interesse nos utilitários-esportivos provocaram um troca-troca de postos entre as montadoras que mais vendem no País.
De 2007 para cá, as três maiores fabricantes perderam, juntas, 26,6 pontos de participação no mercado. Há uma década, General Motors, Fiat e Volkswagen detinham 70,2% das vendas de automóveis e comerciais leves, fatia que neste primeiro quadrimestre caiu para 43,6%.
As asiáticas Hyundai, Honda e Toyota, por sua vez, ganharam 17 pontos no período. Metade deles (8,6 pontos) foi capitaneada pela Hyundai, que saiu de uma fatia de 0,8% para 9,4%. O movimento de alta ganhou mais força a partir de 2012, com a instalação de fábrica local.
Entre as três grandes, a Fiat perdeu 12,7 pontos de participação nas vendas deste ano (ver quadro). Perdeu também, em 2016, a liderança de mercado mantida por 11 anos seguidos. A GM, que ganhou o posto, foi a que perdeu menos participação entre as três marcas: 3,6 pontos. A Volkswagen também teve perda significativa, de 10,3 pontos.
O sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), Marcelo Cioffi, ressalta que a chegada de novas marcas normalmente dilui as fatias de mercado e perde quem tem mais participação. No caso das três mais antigas montadoras do País, a perda se acentuou quando as novatas investiram em carros compactos, que é o grosso da produção das tradicionais.
Ao entrar no mercado nacional com o compacto HB20 e mais recentemente com o SUV Creta, a Hyundai também desbancou a Ford da quarta colocação mantida por longo período, embora a diferença entre ambas hoje seja de 0,1 ponto.
A Hyundai afirma que não pretende ir além, pois opera em três turnos, utilizando toda a capacidade produtiva da fábrica, de 180 mil veículos ao ano. “O quarto lugar é o máximo que podemos almejar, por enquanto”, diz o diretor de marketing Cássio Pagliarini. Segundo ele, uma ampliação da fábrica não está nos planos. “Para isso, primeiro a economia teria de melhorar”.
“Com a chegada de novos competidores é normal em todos os mercados que alguém precisa perder participação”, admite o presidente da Volkswagen do Brasil, David Powels. Segundo ele, nos próximos três a cinco anos a marca terá portfólio totalmente renovado e estará apta a brigar novamente pela liderança em vendas, mantida por 42 anos até 2001.
Para José Roberto Ferro, do Lean Institute, a queda no mercado afetou dramaticamente as maiores fabricantes que, por terem maior capacidade produtiva, ficaram mais ociosas.
A Fiat, em sua opinião, se baseou num plano comercial agressivo de oferecer preços baixos na venda do veículo e ganhar no pós-venda. “Com isso, inflamou artificialmente as vendas, estratégia que dá certo num mercado comprador, mas agora não dá mais”.
A Fiat não comentou o assunto. A empresa adotou a tática de divulgar dados conjuntos da FCA, que reúne Fiat e Jeep. Na soma, a participação nas vendas neste ano é de 17,5%, bem próxima da GM.