Sob o argumento de que não dá para comprar mais de uma briga ao mesmo tempo, o governo Dilma Rousseff desistiu de propor, neste momento, uma reforma trabalhista e vai focar suas “energias” na da Previdência.

A equipe da presidente diz que o tema não será abandonado, mas considera que, neste momento de desemprego alto, seria impossível aprovar mudanças na legislação trabalhista que dessem mais força para a negociação direta entre patrões e empregados.

Assim que foi escolhido, no fim de 2015, o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, elegeu entre as prioridades buscar duas reformas: a da Previdência e a trabalhista.

A ideia foi encampada pelo Planalto, que também passou a defender a proposta de que acordos coletivos entre trabalhador e patrão poderiam prevalecer sobre a legislação como forma de dar mais competitividade à economia.

Inicialmente, o governo queria negociar as duas reformas na primeira reunião deste ano do Fórum Nacional de Previdência e Trabalho, composto por empresários e trabalhadores, que acontecerá nesta quarta-feira (17).

A equipe de Dilma acreditava até que teria o apoio de algumas centrais sindicais, que já defenderam a medida no passado, mas foi avisada de que a crise, com desemprego em alta, impossibilita negociações nessa área.

FRUSTRAÇÃO

A decisão frustra o empresariado, que comemorara o anúncio do ministro Nelson Barbosa de, enfim, priorizar a reforma trabalhista.

Dentro da equipe econômica, o discurso é semelhante ao do Palácio do Planalto: não há clima para negociar as duas reformas e, se insistir, o governo corre o risco de ficar sem nenhuma delas. Daí a decisão de priorizar a da Previdência, considerada essencial para sinalizar compromisso com o equilíbrio das contas públicas no médio e longo prazos.

O problema do governo é que até a da Previdência, defendida por Dilma, conta com resistências na Esplanada dos Ministérios. O ministro Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência) deixou claro que o assunto não pode ser discutido com pressa nem urgência, como defende o Ministério da Fazenda, preferindo uma negociação mais lenta.

Rossetto deixou isso claro em nota divulgada na semana passada, ao afirmar que, por enquanto, o fórum vai tratar de estudos e reflexões sobre a Previdência Social.

ENTRAVES NA BASE

No Congresso, o governo terá também dificuldades em conseguir apoio do próprio PT, contrário à proposta, além de outras legendas, como PC do B, PTB e PDT.

A proposta que a Fazenda irá apresentar a trabalhadores e empresários no fórum, na quarta-feira, prevê um processo de unificação dos regimes de Previdência no país a partir de 2027.

Neste ano, termina a elevação gradual da fórmula 85/95 até atingir 90/100 —soma de idade e tempo de contribuição para mulheres e homens se aposentarem com benefício mais elevado.

Em um dos cenários, a unificação das regras de aposentadoria —mesma idade para homens e mulheres, de trabalhadores rurais e urbanos e de servidores públicos e empregados do setor privado— seria concluída em 2040.

Ou seja, seria criado um período de transição, durante o qual as regras começariam um processo de unificação. O que significa que homens e mulheres se aposentariam com a mesma idade ao final da fase de transição.

Entre as propostas, o governo quer já estabelecer uma idade mínima a partir de 2027, mas ela conviveria como critério de aposentadoria com a fórmula 85/95 até que as regras da Previdência fossem totalmente unificadas.

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A ESCOLHA DE DILMA
Só uma reforma vive

1) O que poderia mudar nas relações trabalhistas?
A proposta era que acordos coletivos entre trabalhadores e patrões pudessem prevalecer sobre a legislação

2) Qual era o objetivo?
A ideia foi apresentada como uma das prioridades do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, como forma de dar mais competitividade à economia do país

3) Como seria conduzida?
O governo pretendia negociar as mudanças na primeira reunião deste ano do Fórum Nacional de Previdência e Trabalho, composto por empresários e trabalhadores, que acontecerá nesta quarta (17)

4) Por que o governo mudou de ideia?
Embora algumas centrais sindicais já tenham defendido a medida no passado, a crise econômica, com desemprego em alta, praticamente impossibilita qualquer negociação nessa área

5) Qual a nova estratégia da equipe econômica?
Priorizar a reforma da Previdência, considerada essencial para sinalizar compromisso com o equilíbrio das contas públicas no médio e longo prazos

6) Mudar a Previdência será mais fácil?
A reforma é defendida pela presidente, mas conta com resistências no governo. O ministro Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência) afirma que não deve haver pressa, como defende a Fazenda