Índices da Ásia, Europa, EUA e Brasil sofreram com temores globais.
Ações da bancos perderam quase 30% no ano e preocupam investidores.

As Bolsas mundiais voltaram a desabar nesta quinta-feira (11), com quedas acentuadas no setor bancário, em meio às preocupações com o valor do petróleo e com a situação da economia mundial. A imprensa alemã apelidou o momento de “terremoto bancário”.

Ações de grandes bancos europeus, afetadas por uma lista sem fim de preocupações de investidores, estão passando por uma onda de vendas mais brutal que a registrada durante a crise internacional de 2008, segundo a agência Reuters.

A queda parece incontrolável no setor financeiro, que já vem lastreando os índices há várias semanas. A recuperação da véspera foi de curta duração e, hoje, os mercados não resistiram. Esse movimento de retração de desde o início do ano parece não ter fim.

Veja o comportamento dos mercados nesta quinta-feira:

Europa
O índice FTSE-100 de Londres caiu 2,39%; o Dax-30 de Frankfurt, 2,93%; e o CAC-40 de Paris, 4,05%. As quedas foram ainda mais pronunciadas nas praças de Madri, onde o Ibex-35 recuou 4,88%, e de Milão, onde o FSTE-Mib afundou 5,63%.

O setor bancário caiu 6,26% e liderou as baixas. Na semana até o momento, o setor acumula queda de quase 11%, com as preocupações sobre a lucratividade em um ambiente de baixo crescimento e baixas taxas de juros prejudicando a confiança no setor. O setor já perdeu 28,6% no ano.

EUA
Os principais índices acionários dos Estados Unidos caíam nesta quinta-feira uma vez que os investidores, assustados com a saúde da economia global, abandonaram as ações e buscaram ativos seguros.

As ações do setor bancário pressionaram Wall Street em meio a preocupações de que a desaceleração da economia global vai continuar pressionando as taxas de juros. O setor de energia ajudou o mercado a diminuir as perdas no fim da sessão. O índice Dow Jones caiu 1,6%, a 15.660 pontos, enquanto o S&P 500 perdeu 1,23%, a 1.829 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq recuou 0,39%, a 4.266 pontos.

O volume de negócios foi elevado e o S&P atingiu a mínima em dois anos em seu pior momento na sessão, mas devolveu parte das perdas perto do fechamento após o Wall Street Journal informar que a Opep estava pronta para cooperar com os cortes de produção.

A chair do Federal Reserve, Janet Yellen, reconheceu naquarta-feira o aperto das condições financeiras e a incerteza sobre a China e os riscos que isso representa para a economianorte-americana, mas ainda assim manteve aberta a possibilidade de mais aumento dos juros.

Ásia
A onda expansiva começou na Ásia, com uma queda de quase 4% do índice Hang Seng de Hong Kong, em sua primeira sessão depois de três dias de feriado pelo Ano Novo lunar. A aversão ao risco pesou sobre a maioria das ações asiáticas, com Hong Kong – um dos principais canais para os investidores globais atuarem na China– caindo 3,85%, com os investidores de lá voltando do feriado prolongando do Ano Novo Lunar. Os mercados no restante da China continuaram fechados.

Brasil
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou com fortes perdas nesta quinta-feira, pressionada pelo quadro externo desfavorável, com queda nas principais bolsas globais e commodities, diante de permanentes preocupações com a fragilidade da economia mundial.

O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 2,62%, a 39.318 pontos. Foi o terceiro dia de queda. No mês de fevereiro, a bolsa acumula queda de 2,61%. Em 2016, o índice desvaloriza 9,29%.

‘Terremoto bancário’
Segundo dados da AFP, na França, o Société Générale retrocedeu 12,57%, e o BNP Paribas, 6,02%. Na Itália, Ubi Banka caiu 12,11%, e o BMPS, 9,88%. Na Espanha, o España Bankia perdia 7,64%, e o BBVA, 7,14%.

O primeiro banco alemão, o Deutsche Bank, também despencou, perdendo 6,14%. Na quarta-feira, a instituição subiu quase 16% por rumores sobre uma operação de recompra da dívida destinada a acalmar os temores sobre sua solvência.

A situação não foi melhor na “City” de Londres, onde a Barclays perdeu 7,01%, e a Standard Chatered, 5,09%.

‘Bancos têm situação melhor’, diz Eurogrupo
O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, considerou, porém, que os bancos da zona euro, duramente afetados pela crise econômica e financeira global de 2007 e 2008, estão hoje “em melhor situação do que há alguns anos”.

“Há cada vez mais riscos (…) e certa volatilidade nos mercados, mas podemos dizer que, estruturalmente, a zona euro está mais bem posicionada do que estava há alguns anos. Isso também vale para nossos bancos”, declarou Dijsselbloem, ao final da reunião de ministro do Eurogrupo em Bruxelas.

Dijsselbloem ressaltou o papel da União Bancária criada na zona euro “para criar uma estabilidade no setor financeiro e romper o vínculo entre bancos e [dívida] soberana”.

Antes disso, em Bruxelas, o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, também destacou que a economia do continente é “sólida”, tanto no que diz respeito “à economia real quanto à situação dos bancos”.

“No conjunto, vemos que o sistema bancário europeu é muito mais sólido do que no passado. Está protegido pela União Bancária. Devemos confiar no mecanismo”, defendeu.

“A Europa continua sua reativação econômica. Ainda é muito modesta. (…) Fatores favoráveis continuam estimulando as exportações e o consumo. Mas também há riscos, sobretudo, exteriores, que aumentaram nos últimos meses”, completou Moscovici.

Espectro de outra crise
O rebote de quarta-feira já havia perdido vigor ontem, depois que Janet Yellen manifestou sua preocupação com o impacto das turbulências mundiais na economia americano. Em audiência no Senado, nesta quinta, Yellen disse considerar que ainda é prematuro avaliar o impacto da volatilidade dos mercados na economia dos EUA.

Os mercados monitoram cada palavra dela para tentar se proteger diante de um novo aumento das taxas nos Estados Unidos, depois do realizado em dezembro passado. Suas declarações de hoje aceleraram as quedas de Wall Street.

Petróleo em queda
O petróleo manteve sua tendência de queda em Nova York e fechou hoje em seu valor mais baixo desde maio de 2003. Depois de perder US$ 3,5 nas três sessões anteriores, o barril de “light sweet crude” (WTI) para março cedeu US$ 1,24 e fechou a US$ 26,21.

No mercado de Londres, o barril de Brent para entrega em abril caiu US$ 0,78, a US$ 30,06. “Enfrentamos uma tendência negativa geral da economia mundial”, comentou à AFP Carl Larry, da firma Frost & Sullivan.

“A recuperação é esperada em todo o mundo, e isso pressiona o petróleo”, acrescentou. “Enquanto a economia estiver enfraquecida, e a demanda for baixa, o mercado petroleiro continuará em níveis baixos”, insistiu.

Os abalos dos mercados desde o início do ano despertaram temores de uma nova crise, como a deflagrada pela quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, na avaliação de Sylvain Loganadin, analista da corretora britânica FXMC, para a AFP.

“Se isso não for uma crise, trata-se, de qualquer maneira, de movimentos extremamente violentos”, alertou à agência René Defossez, da Natixis.