Presidente do Senado rebate declaração de Cunha dada um dia antes. Renan diz que, ‘quanto mais o deputado tentar interferir’, ‘só vai atrapalhar’.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou nesta quarta-feira (20) as declarações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que cobrou celeridade na tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e disse que, quanto mais o deputado “tentar interferir”, “só vai atrapalhar”.

Na terça (19), diante da decisão do presidente do Senado de marcar a eleição da comissão especial que analisará o caso para a semana que vem, Cunha afirmou que a demora no desfecho do impeachment poderia “causar muitos prejuízos” ao país. Ele disse ainda que previa uma paralisia no Congresso Nacional até o Senado decidir sobre o processo.

“Nesta semana, não vamos ter votação. Semana que vem, o governo não é reconhecido pela Casa. O que vai acontecer a partir da semana que vem: nós temos uma ‘ainda’ presidente da República e ninguém vai reconhecer absolutamente nada para efeito de matérias. Então, há uma paralisia do Congresso Nacional até o Senado decidir. É isso que vai acontecer”, afirmou Cunha na terça (19).

Em resposta, Renan também disse que “paralisar as ações [da Casa] é muito ruim porque ninguém vai se beneficiar do lockout, do agravamento da crise, do desemprego, do aumento da desesperança”.

“Quanto mais o presidente da Câmara tentar inteferir no ritmo de andamento do processo no Senado, sinceramente, ele só vai atrapalhar”, respondeu o presidente do Senado.

Dois dias após o plenário da Câmara aprovar a abertura do processo de impeachment por 367 votos favoráveis e 137 contrários, Cunha disse o não ver ambiente político para votar qualquer coisa na Casa. Desafeto do Palácio do Planalto, ele disse que iria colocar os projetos em pauta, mas que o país tinha agora uma “ainda” presidente da República e “ninguém vai reconhecer absolutamente nada para efeito de matérias”.

Renan ponderou que deixar de votar matérias importantes só irá prejudicar o país e lembrou que, enquanto o processo andava na Câmara, o Senado não deixou de realizar votações.

“Por mais que queira, o Senado não pode atropelar prazo, nem deve fazer isso perante a história. Enquanto a Câmara votava autorização do impeachment, o Senado deliberava”, afirmou.

Renan listou propostas que foram votadas pelos senadores, como a lei de responsabilidade das estatais, o pré-sal, o desaparelhamento político dos fundos de pensão. “Eu, sinceramente, não acredito que o lockout ajuda o Brasil. Nós temos que separar as matérias de interesse do Brasil e as matérias de interesse de governos, que são efêmeros”, disse.

O presidente do Senado insistiu que a paralisação de uma das Casas do Legislativo só agravará a crise. “Acho que nesse momento de dificuldade do povo brasileiro, cada Casa pretender (…) interferir na outra Casa, isso é muito ruim, ou paralisar as suas ações é muito ruim porque ninguém vai se beneficiar do lockout, do agravamento da crise, do desemprego, do aumento da desesperança”, ressaltou.

Renan defendeu uma tramitação com “responsabilidade” e “muito cuidado”. “É um processo longo e traumático, que vai impedir um presidente da República eleito pelo povo. Então, é preciso ter todo o cuidado. Na última vez que o Senado votou o impeachment [do ex-presidente Fernando Collor], ele condenu o presidente por crime de responsabilidade e o Supremo Tribunal Federal, na sequência, o absolveu. Nós temos que ter muita responabildiade com a história”, alertou.