Presidente deve embarcar nesta quinta-feira para evento da ONU em NY.
Políticos da oposição criticam viagem: é ‘desespero’ e ‘erro grave’, dizem.

para Nova York (EUA) para participar, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), da cerimônia de assinatura do acordo elaborado no ano passado, em Paris, sobre mudança do clima.

Segundo o G1 apurou, em seu discurso de cinco minutos diante dos chefes de Estado mundiais, ela planeja falar sobre o processo de impeachment que enfrenta no Congresso Nacional e denunciar que é vítima de um “golpe parlamentar”.

No período em que a presidente estiver no exterior, o vice-presidente Michel Temer assumirá interinamente a Presidência. Segundo a assessoria da Vice-presidência, Temer pretende permanecer em São Paulo durante o período em que Dilma estiver nos Estados Unidos.

Desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acolheu o pedido de impeachment, em dezembro do ano passado, Dilma e aliados passaram a defender que a petista é alvo de uma tentativa de “golpe” porque, segundo eles, não há caracterização de um crime de responsabilidade.

Ela vai tentar explicar o inexplicável, tentar sensibilizar fóruns internacionais que não a conhecem. Como se o impeachment não estivesse previsto na Constituição”
José Agripino Maia (RN), senador e presidente nacional do DEM

Oposição critica
Em nota, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), classificou de “desespero” os planos da presidente de denunciar um suposto “golpe” durante seu discurso no evento da ONU.

“Acho curioso. Aqui, ela [Dilma] não consegue falar porque quando fala os protestos com panelaço ou com apupo são ato contínuo”, ironizou o senador oposicionista. “Ela vai tentar explicar o inexplicável, tentar sensibilizar fóruns internacionais que não a conhecem. Como se o impeachment não estivesse previsto na Constituição”, complementou Agripino.]

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também criticou a tese de “golpe” que a presidente pretende levar à sessão da ONU, em Nova York. “Primeiro, meu respeito pela presidente, inclusive, e pela instituição, da presidência. O que eu sempre defendi? Investigação, investigação, investigação, e cumprimento da Constituição. A Constituição está sendo rigorosamente cumprida”, disse.

O PT não pode falar em golpe, porque o PT entrou de impeachment contra o Collor. Um pedido de impeachment contra o Itamar. Um pedido de impeachment contra o Fernando Henrique, um e dois. Só não entrou com o Lula e a Dilma porque eles são do PT. Agora é golpe.”
Governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP)

Para ele, o PT não pode relacionar impeachment a golpe porque defendeu essa medida em outros governos. “O PT não pode falar em golpe, porque o PT entrou de impeachment contra o Collor. Um pedido de impeachment contra o Itamar. Um pedido de impeachment contra o Fernando Henrique, um e dois. Só não entrou com o Lula e a Dilma porque eles são do PT. Agora é golpe”, afirmou o governador.

O líder da bancada do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), também criticou o discurso que Dilma deve fazer nos Estados Unidos. Na visão do oposicionista, a presidente cometerá um “erro grave” se afirmar aos governantes mundiais que há um golpe em curso no Brasil.

“Acho que é um erro grave que ela comete. Ela vai a Nova York com o fim único e exclusivo de denunciar um suposto golpe que ela tenha sido vítima. Esse papel de vítima não cabe. O rito que ela sofreu na Câmara tem respaldo legal e constitucional, referendado pelo Supremo Tribunal Federal”, ressaltou Pauderney.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) diz esperar que a presidente tenha o “bom senso” de não “denegrir” a imagem do Brasil no exterior.

É mais um ato de desonestidade da Dilma e do PT. O Supremo já disse que o que está sendo feito não é golpe, está dentro da lei e eles insistem nesse tema. Ela não lembra que o PT foi o autor de todos os pedidos de impeachment, desde o Sarney. […] É mais um ato de desespero da presidente e colocando o país em constrangimento internacional.”
Deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS na Câmara

“Quem ama o Brasil de verdade, não fala mal do Brasil no estrangeiro. Não é possível que ela queira levar para a ONU o mesmo discurso retórico, o mesmo blablablá, a mesma verborragia que ela tem usado aqui com essa história de golpe porque ela não conseque responder às acusações que lhe são dirigidas. Seria um desserviço, seria um crime de lesa-pátria, seria um ultraje ver a presidente da República, no exercício ainda das suas funções, usar a tribuna da ONU para denegrir a imagem do Brasil no exterior”, declarou.

Para o deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS na Câmara, a presidente cometerá um “ato de desonestidade” se falar em “golpe” na ONU.

“É mais um ato de desonestidade da Dilma e do PT. O Supremo já disse que o que está sendo feito não é golpe, está dentro da lei e eles insistem nesse tema. Ela não lembra que o PT foi o autor de todos os pedidos de impeachment, desde o Sarney. De repente chega ao governo, faz o maior estelionato eleitoral da história, os crimes de responsabilidade com as fraudes fiscais, até parece que não tá acontecendo nada. É mais um ato de desespero da presidente e colocando o país em constrangimento internacional”, declarou.

Ela não vai conseguir isso [mostrar que é um golpe] no cenário internacional. Ela está desvirtuando em 100% o objetivo da viagem, que é algo relevante e importante para o país, trazendo uma discussão que é de ordem pessoal dela.”
Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM no Senado

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), vê um “prejuízo enorme” para o país se a presidente “desvirtuar” a imagem do Brasil na ONU.

“É um prejuízo enorme para o país, onde a presidente da República, em vez de se curvar a uma decisão da Câmara, ela, mais uma vez, tentará desvirtuar a imagem do Brasil no cenário internacional. Como é característica do PT, ela pensa apenas em seu projeto de poder, deixando de reconhecer que todas as etapas estão sendo convalidadas pelo Supremo. Ela não vai conseguir isso [mostrar que é um golpe] no cenário internacional. Ela está desvirtuando em 100% o objetivo da viagem, que é algo relevante e importante para o país, trazendo uma discussão que é de ordem pessoal dela”, disse.

O líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (DF), se disse preocupado com a “insistência” na tese do golpe porque, segundo ele, a presidente tem todas as condições de fazer a própria defesa e demonstrar que não cometeu crime de responsabilidade.

“Com muito respeito à presidente Dilma, mas está claro através das diversas decisões do Supremo, através da própria Constituição, da observância absoluta dos ritos regimentais e legais da comissão na Câmara que estamos cumprindo a Constituição. E nos preocupa essa insistência na tese do golpe, uma vez que a Câmara apenas admitiu que o Senado faça todas as ilações probatórias e toda a instrução processual para que a presidente tenha todas as condições, assim como na Câmara, de fazer sua defesa e mostrar que não cometeu crime”, afirmou.

Acordo do Clima
Inicialmente, havia a previsão de que a presidente participasse da sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o Problema Mundial das Drogas. No entanto, ela não chegará a tempo ao evento.

A agenda prévia de Dilma prevê a presença dela apenas na solenidade de assinatura do acordo do clima, que ocorrerá na sede da ONU na sexta-feira (22).

Esse acordo envolve metas dos países signatários para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, ampliar o uso de matrizes energéticas limpas e reflorestar áreas verdes desmatadas.

Nos Estados Unidos, a presidente não deverá ficar hospedada em hotel, como costuma fazer em viagens para fora de Brasília. A previsão é que ela se hospede na residência oficial do embaixador do Brasil na ONU, Antonio Patriota, que comandou o Ministério das Relações Exteriores no primeiro mandato de Dilma.

A viagem da presidente da República aos Estados Unidos estava prevista desde o mês passado, mas, diante do cenário de crise política, cogitou-se a possibilidade de a viagem ser cancelada.

‘Veio golpista’
Em entrevista coletiva concedida nesta terça (19) a correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto, afirmou que está sendo “vítima” de um processo de impeachment baseado em uma “flagrante injustiça” e que o Brasil tem um “veio golpista adormecido”. De acordo com a petista, ela classifica de “veio” a possibilidade que “nunca é afastada”.

“O Brasil tem um veio que é adormecido. Um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória dos presidentes no meu país, no regime presidencialista, a partir de Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment, sistematicamente, se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos. Eu tenho certeza de que não houve um único presidente depois da redemocratização do país que não tenha tido processos de impedimento no Congresso Nacional. Todos tiveram. Todos”, afirmou.