Com crise econômica, número de pessoas empregadas e rendimento caem mais no Norte e no Nordeste, o que deve ampliar o “buraco” social e produtivos existente entre os estados brasileiros

Menos estruturadas para se recuperar após a crise e com maiores perdas de emprego e renda, regiões Norte e Nordeste podem ver a distância em relação ao resto do País aumentar nos próximos anos.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a taxa de desemprego no Nordeste (10,5%) continua sendo a maior do País, bem acima da média nacional (9%).

O rendimento real médio também é pior na região. Nos nove estados nordestinos, os trabalhadores recebem, em média, R$ 1.276 por mês. Situação semelhante é registrada no Norte (R$ 1.456), enquanto no Sudeste (R$ 2.236), no Sul (R$ 2.066) e no Centro-Oeste (R$ 2.154) as quantias são maiores.

Cimar Azeredo, coordenador no IBGE, afirmou que a desigualdade tem crescido desde que a crise estourou. “Além de serem regiões [Norte e Nordeste] que têm, tradicionalmente, taxas de desemprego mais altas, estas aumentaram mais [do que as demais regiões]”.

Para ilustrar a situação, Azeredo citou o caso da Bahia. O estado nordestino teve aumento no desemprego superior a dois pontos percentuais em um ano, encerrando 2015 com uma das maiores taxas do País (12,2%). Ainda que o avanço do desemprego e a queda nos salários estejam presentes em todo o País, os especialistas entrevistados pelo DCI ressaltaram que o Norte e o Nordeste devem ter mais problemas para superar a retração econômica.

“A rede de proteção nessas partes do Brasil é bem mais curta”, disse Azeredo. “As regiões já são tradicionalmente menos desenvolvidas, têm baixos níveis de escolaridade e qualificação, baixo desempenho econômico e industrial e maior informalidade no mercado de trabalho”.

Outro aspecto que complica a situação dos estados na parte de cima do País é a maior dependência do setor público, apontou Antônio Carlos dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Além de programas sociais, o Norte e o Nordeste se beneficiaram, nos últimos anos, de investimentos da Petrobras e de programas de desenvolvimento do BNDES, disse Santos. Segundo ele, os aportes de instituições públicas foram fundamentais para a industrialização das regiões.

A queda desses investimentos, entretanto, também pode favorecer o aumento da disparidade regional. “Se o governo não conseguir, por exemplo, manter os gastos sociais, é bem possível que a desigualdade aumente ainda mais”, afirmou Santos.

Já Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), destacou que Norte e Nordeste, onde a população é mais jovem, não estão aproveitando o chamado “bônus demográfico”, o que também pode prejudicar o desenvolvimento das regiões.

“As altas taxas de desemprego em estados com muitas pessoas em idade de trabalhar causam uma grande perda de produtividade”. Segundo o professor, os baixos índices de escolaridade e de qualificação também afastam indústrias que poderiam investir na região no futuro.

A baixa presença do setor industrial, inclusive, também aumenta o problema econômico nas regiões Norte e Nordeste. “Como a indústria tem menor peso, a retração da construção civil, por exemplo, é mais sentida e afeta mais o desenvolvimento local”, explicou Rochlin.

PNAD

Os dados da pesquisa do IBGE apontaram que o desemprego no Brasil subiu de 6,5%, no quarto trimestre de 2014, para 9% em igual período de 2015. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, o avanço da desocupação foi de 0,1 ponto percentual.

As maiores taxas foram registradas em Amapá (12,5%), Bahia (12,2%), Rio Grande do Norte (12,1%), Alagoas (11,4%) e Pernambuco (11%). Na ponta oposta da lista, Santa Catarina (4,2%) marcou o menor percentual de desempregados.

O rendimento médio real dos trabalhadores (R$ 1.913) caiu 1,1% na comparação entre quarto e terceiro trimestres de 2015. O recuo foi maior (-2,0%) no confronto com o último trimestre de 2014, quando o montante era de R$ 1.953.

Entre os estados do País, o Distrito Federal (R$ 3.629) teve o maior rendimento médio. Os piores resultados foram registrados justamente no Norte e Nordeste, com Maranhão (R$ 1.016), Piauí (R$ 1.216), Ceará (R$ 1.217), Alagoas (R$ 1.258) e Pará (R$ 1.266).