Durante os cinco dias de visita aos Estados Unidos, o papa Francisco terá uma agenda política e religiosa diversificada.
Ele deve tentar avançar no tema das relações com Cuba, intercedendo pelo fim do embargo imposto pelos Estados Unidos ao país, e endossar a luta pelo combate à pobreza e redução de efeitos das mudanças climáticas como diretrizes globais.
No campo religioso, papa Francisco tem como desafio fortalecer a Igreja – que apresentou redução no número de fiéis – e tratar questões polêmicas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a imigração e o aborto.
No encontro com o presidente norte-americano, Barack Obama, previsto para as 9h15 (10h15 no horário de Brasília), a expectativa é que Cuba seja um dos primeiros pontos da conversa. Depois de quatro dias no país caribenho, de se encontrar com Fidel Castro e com o presidente da ilha, Raúl Castro, Francisco disse durante a viagem para os Estados Unidos, que quer o fim do embargo econômico.
O tema do embargo é um dos mais sensíveis da agenda, mas em entrevista dentro do avião durante o deslocamento, papa Francisco afirmou que deseja o fim do embargo e que a situação se resolva em um acordo.
Apesar da declaração incisiva, o papa disse que não pretende tratar do assunto no discurso que fará no Congresso norte-americano hoje à tarde. A visita dele ao plenário é histórica. Nunca antes um pontífice havia ido ao plenário das Casa Legislativas dos Estados Unidos.
Mas a visita causa polêmicas internas. A imprensa norte-americana divulgou comentários de alguns senadores conservadores que já avisaram que podem boicotar o discurso por entender que o papa “se envolve em temas políticos” e tem que um viés “esquerdista”, por fazer críticas ao capitalismo e defender uma política social de combate às desigualdades.
Cúpula da ONU
Na Organização das Nações Unidas (ONU) o papa vai ver pela primeira vez a bandeira do Vaticano ser hasteada e participará da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável 2015, na sexta-feira (25).
A presença dele na abertura do evento, que vai apresentar oficialmente a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável para 2030, é significativa porque o discurso do papa – de redução das desigualdades e combate à pobreza – vem ao encontro dos temas propostos e diretrizes que deverão ser adotadas globalmente pelos países membros da ONU.
No contexto de pedir mais comprometimento dos países na busca de metas propostas em relação às mudanças climáticas, o papa também deve abordar o tema, tendo em vista a proximidade da COP21 a Conferência do Clima, em Paris, marcada para dezembro.
Outros temas que podem surgir na agenda política são a questão da imigração e dos refugiados, além do crescimento do Estado Islâmico.
Desafio religioso
O papa chega aos Estados Unidos em um momento em que o país se prepara para as eleições presidenciais e já há uma disputa intensa nos principais partidos, Republicanos e Democratas, para a escolha dos candidatos.
No pano de fundo da visita, os pré-candidatos discutem questões como o Islamismo, expulsão de imigrantes ilegais, casamento gay e descriminação do uso de drogas. Nesse contexto, ele participará de celebrações em Washington, Nova York e, no encontro das famílias, na Filadélfia.
O papa visita o país em um momento em que o número de católicos praticantes norte-americanos vem caindo. Há oito anos, 24% se diziam católicos, este ano, a última pesquisa apontou para 21% de fiéis. As igrejas neopentecostais cresceram no país, assim como as religiões orientais.
Mas, segundo o Pew Reserch Center, um centro de estudos sobre religião e tendências no país, cerca de 45% das pessoas nos Estados Unidos declaram ter algum tipo de conexão com a fé católica.
“Seria como dizer que a pessoa é católica não-praticante”, explicou à Agência Brasil, o teólogo Luiz Wesley de Souza, professor da Emory University em Atlanta.
Uma pesquisa encomendada pelo Washington Post-ABC News, no último domingo (20), revelou que 70% dos norte-americanos tem uma “impressão favorável” do papa Francisco.
“Ele tem credibilidade hoje para tocar em temas sensíveis e ele leva a doutrina social da Igreja, para a agenda global”, acrescenta o teólogo.
*Colaborou Gislene Nogueira
Fonte: Agência Brasil