Em entrevista ping-pong publicada em duas páginas na edição de hoje do jornal Folha de S. Paulo, o presidente Michel Temer reconhece falha ao encontrar com empresário fora da agenda, mas diz que renúncia é declaração de culpa.

“Se quiserem, me derrubem”, disse ele. Sobre o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, flagrado recebendo R$ 500 mil em espécie da JBS, o presidente disse que a atitude dele não é “aprovável” e lamentou: “Coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole”. A respeito da possibilidade de renunciar, Temer foi enfático: “Não vou fazer isso, tanto mais que já contestei muito acentuadamente a gravação espetaculosa que foi feita”. Questionado sobre se seria prevaricação o fato de ele ter ouvido o empresário Joesley Batista relatar crimes, respondeu: “Você sabe que não? Eu ouço muita gente, e muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Confesso que não leve essa bobagem em conta”.

Temer esquivou-se da pergunta sobre se seria moralmente defensável receber tarde da noite, fora da agenda, um empresário investigado pela Justiça. “Eu nem sabia que ele estava sendo investigado”, respondeu. Após dizer que Joesley Batista “teve treinamento de 15 dias para gravar, fazer a delação”, agregou que seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures foi “certamente induzido, seduzido por ofertas mirabolantes e irreais” para aceitar uma mala com R$ 500 mil em dinheiro dada por um emissário do grupo JBS. Mas negou que se sinta traído pelo ex-assessor. “Não vou dizer isso, porque ele é um homem, coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole”, ressaltou. “Sempre tive a convicção de que ele tem muito boa índole. Agora, que esse gesto (pegar a mala com o dinheiro) não é aprovável”. Acrescentou que não rompeu com Rocha Loures: “Não se trata de romper ou não romper, não tenho uma relação, a não ser uma relação institucional (com ele)”. O presidente explicou porque não pretende renunciar. “Se quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração de culpa”, justificou.

O presidente se irritou diante da questão sobre até que ponto vale continuar no cargo sem força política. “Isso é você quem está dizendo. Eu vou revelar força política precisamente ao longo dessas próximas semanas com a votação de matérias importantes”, retrucou. Após se considerar “ingênuo” por ter recebido Joesley Batista no Palácio do Jaburu, Temer o qualificou de “empresário grampeador”. “Ele vai carregar isso para o resto da vida. E vai transmitir uma herança muito desagradável para os filhos”, acentuou.

Garantindo que “eu não estou perdido”, Temer contou que, antes da crise, o ministro Henrique Meirelles informou-lhe que teria um encontro com 200 empresários, “todos animadíssimos”, para tratar de investimentos na economia. “Tenho de verificar o que vai acontecer nas próximas semanas”. Quanto a seus pronunciamentos que tem sido mais duros, o presidente brincou: “Olha, acho que eles gostaram desse novo modelito. As pessias acharam que “enfim, temos presidente”.