Segundo jornal, dono da JBS gravou Temer dando aval para comprar silêncio de Cunha. Presidente decidiu cancelar 17 compromissos oficiais e se reuniu com núcleo político do governo.
O presidente Michel Temer decidiu cancelar todos os compromissos que constavam na agenda oficial nesta quinta-feira (18). Depois, ele recebeu ministros do núcleo político em seu gabinete no Palácio do Planalto.
A decisão de cancelar os compromissos foi tomada um dia após o colunista do jornal “O Globo” Lauro Jardim informar que os donos do frigorífico JBS, Joesley e Wesley Batista, disseram em delação à Procuradoria-Geral da República (PGR) que gravaram o presidente dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao chegar ao Palácio do Planalto, por volta das 8h05, o presidente tinha 18 encontros previstos na agenda. Os encontros estavam marcados para ocorrer a cada meia hora, sem intervalos nem para almoço.
Temer chegou a receber o senador Sérgio Petecão (PSD-AC). A reunião era o primeiro dos 18 compromissos e já estava prevista na quarta, antes de as primeiras informações envolvendo Temer terem sido divulgadas.
Logo após a reunião com o parlamentar, porém, os outros 17 compromissos que constavam na agenda foram cancelados.
Entre os compromissos, estavam encontros com deputados federais, estaduais, senadores, presidentes de partidos. No site do Planalto, a agenda foi substituída para “despachos internos”.
Entenda o caso
- A delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do frigorífico JBS, levantou suspeitas sobre políticos e um procurador da República.
- Nesta quarta, “O Globo” informou que o dono da JBS gravou Temer dando aval para comprar o silêncio de Eduardo Cunha. O presidente disse que se reuniu com o empresário Joesley Batista, mas “jamais” tentou evitar a delação de Cunha.
- Os depoimentos desencadearam decisões no STF e operações da Polícia Federal.
- Articuladores políticos do Planalto foram avisados que vários grupos da base aliada querem a renúncia de Temer. Presidente já afirmou a ministros que não tem disposição em renunciar e avalia fazer um pronunciamento nesta quinta.
Pronunciamento
Depois de cancelar os encontros, o presidente se reuniu com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo).
Na reunião com o núcleo político do governo, Temer discutiu sobre a possibilidade de fazer algum pronunciamento oficial, como informou a colunista do G1 Andréia Sadi.
O Salão Leste do Palácio, local onde normalmente são realizadas as entrevistas à imprensa, está preparado desde a noite de quarta.
A segurança do Planalto também foi reforçada. Na parte externa, grades foram colocadas cercando o prédio para evitar a ação de manifestantes.
Na parte interna, seguranças e integrantes do Batalhão da Guarda Presidencial, do Exército, também circulam pelo prédio a fim de limitar a circulação dos jornalistas.
O primeiro pronunciamento de Temer sobre o caso foi dado por meio de nota divulgada na noite desta quarta pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência.
No texto, a assessoria do Planalto afirmou que Temer “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”.
Pressão de aliados
A reunião do presidente com o núcleo político do Planalto ocorre em meio à pressão de vários grupos aliados do governo.
De acordo com o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, articuladores políticos do governo foram avisados no fim da noite desta quarta que vários grupos de parlamentares que integram o núcleo duro da base aliada querem a renúncia de Temer.
Em uma reunião com conselheiros políticos, na noite desta quarta, o presidente já disse que não tem disposição em renunciar.
Segundo o colunista, o Planalto foi avisado que, se Temer não der sinalização rápida de solução para a crise política, através da renúncia, haverá forte movimento nesse sentido pelos próprios aliados, o que deixaria a situação do presidente insustentável.