Episódios de violência como o ataque à caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Paraná, e as ameaças à família do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, ocorridos em março, foram os motivos para que senadores decidissem promover na quarta-feira (9), às 11h, uma sessão temática no Plenário do Senado para debater “a paz no processo eleitoral”.

A iniciativa foi do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), apoiada pelos senadores Dário Berger (PMDB-SC), Eduardo Amorim (PSDB-SE), João Capiberibe (PSB-AP), Elmano Férrer (Pode-PI) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

Cristovam lembrou já ter sido vítima de ataques constrangedores ao longo da vida pública, como os dois tiros que alvejaram seu escritório de governador do Distrito Federal, em 1996, e disse que outros senadores também já foram vítimas desse tipo de ação. Ele considerou o que aconteceu com a caravana do ex-presidente Lula no Sul do Brasil muito grave, principalmente neste início de uma fase eleitoral

“Quando o processo eleitoral cai na violência, a democracia desaparece implicitamente; ou melhor, a democracia fica apenas aparente. Ela deixa de ser realidade. Eu temo que essas violências levem o Brasil a um momento perigoso no processo eleitoral e para o futuro do país”, alerta ao justificar o pedido de sessão temática.

“Não podemos deixar que isso saia do controle e que o processo democrático da eleição de outubro seja um processo de armas e não um processo de urna”, disse ainda.

Para Cristovam, o Senado precisa debater esse assunto e definir uma trégua no processo eleitoral brasileiro, inclusive para diminuir as notícias falsas e os boatos que, acredita, vão tomar conta da campanha eleitoral.

— As fake news provavelmente farão com que os candidatos, ao invés de apresentarem os seus programas, tenham que desmentir o que sai contra eles durante a campanha — afirmou ao defender a proposta em Plenário.

O senador Dário Berger reforçou a necessidade de o Senado fazer uma “discussão mais ampla, mais conceitual, mais abrangente” das relações que norteiam a política. Dário contou também já ter sido vítima de ataques em 1996, quando foi candidato a prefeito de São José (SC). Seu carro foi alvejado a tiros por seu principal adversário de campanha.

— Essas questões são recorrentes e se agravaram ao longo do tempo. Isso é o mais grave. Ao invés de nós melhorarmos a nossa relação, nós estamos num conflito existencial e, sinceramente, não sei aonde nós vamos chegar.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) — agredida por um passageiro durante um voo para Curitiba na campanha de 2016 — concordou que esse é o momento de autocrítica e de se trilhar um novo caminho na convivência política. Em sua avaliação, a sessão temática é uma forma de os 81 senadores se manifestarem de forma contrária à violência.

Para participar do debate, foram convidados o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ayres Britto, a cientista política Lúcia Hippolito, a cientista política especialista em segurança pública Ilona Szabó, e o assessor de Comunicação da Fundação Astrojildo Pereira Tibério Canuto.
(Paola Lima)