A crise na indústria brasileira faz diminuir mês a mês o número de trabalhadores no setor. Quem permanece empregado tampouco foi poupado, porque já está com o salário menor. A atividade industrial lidera a queda na renda média real do trabalhador, de acordo com dados do IBGE.

Em novembro do ano passado, o rendimento médio do empregado da indústria despencou 12,5% em relação ao mesmo mês de 2014, mostrou a Pesquisa Mensal de Emprego. A folha de pagamento per capita do setor confirma a tendência de corte nos salários.

De janeiro a outubro de 2015, o valor desembolsado pelas empresas por trabalhador recuou 1,4%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes). A queda na folha de pagamento per capita é menor porque o indicador capta todo tipo de gasto da empresa com o trabalhador, incluindo participação nos lucros e custos com indenizações e demissões.

Após meses de enxugamento no chão de fábrica, as demissões estão chegando aos cargos de maior instrução e especialização, ao mesmo tempo em que algumas categorias não estão conseguindo reajustes salariais em magnitude suficiente para compensar a inflação do período, avaliam especialistas.

“Como a crise não é passageira, você começa a ajustar o emprego no chão de fábrica”, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Se a crise continua, não tem por que a empresa manter ?staff? gerencial e administrativo. Você começa a ajustar também nos níveis superiores.”

No acumulado em 12 meses, o recuo na folha de pagamento per capita vem se aprofundando a cada leitura: -0,5% em agosto; -0,7% em setembro; -1,1% em outubro. “Os reajustes nas negociações salariais estão vindo abaixo da inflação, o que dá uma perda real no salário desses trabalhadores”, afirma André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. “O ganho de salário que o trabalhador tem não está suplantando a inflação do período. Isso pode explicar um pouco dessa perda.”

A folha de pagamento como um todo apenas da indústria de transformação já está 16,7% abaixo do pico registrado em setembro de 2008, data emblemática de agravamento da crise financeira internacional.

“A indústria é o setor mais estruturado, com maior índice de formalização. Quando vai bem, a indústria puxa o dinamismo do mercado de trabalho, dos outros setores e até dos reajustes salariais. Como vai mal, isso certamente está afetando o comportamento das negociações entre trabalhadores e empregadores e dos reajustes salariais em geral”, diz José Silvestre, coordenador de Relações Sindicais no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Negociações

Os dados do Dieese mostram que apenas 61% das negociações salariais do setor industrial no primeiro semestre de 2015 resultaram em reajuste acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No mesmo período de 2014, os trabalhadores da indústria tiveram sucesso na reposição da inflação em 93% das negociações.

“Esse resultado negativo deve se acentuar no segundo semestre”, prevê Silvestre. O Dieese divulgará apenas em março os dados completos sobre as negociações salariais realizadas no ano passado. O total de trabalhadores ocupados na indústria recuou 7,2% em outubro de 2015 em relação ao mesmo mês do ano anterior, o 49.º resultado negativo consecutivo e o mais intenso da série histórica da Pimes, iniciada em dezembro de 2000. A Pesquisa Mensal de Emprego de novembro, que apura informações das seis principais regiões metropolitanas do País, contabiliza que a indústria cortou 315 mil postos de trabalho no período de um ano.