Brasileiros com formação de alto nível, como juízes, promotores e médicos, saem do País para ter melhor qualidade de vida; turbulência econômica também tem incentivado mudanças

A fuga da crise econômica e a busca por países com melhor qualidade de vida fizeram crescer a quantidade de brasileiros que se mudaram ou deram início a um processo de emigração nos últimos anos.

Entre 2011 e 2015, o número de pedidos de saída definitiva feitos por brasileiros à Receita Federal cresceu 67%, chegando a 13.288 no ano passado. Para Antônio Carlos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), o fator negativo da emigração de brasileiros é a perda de trabalhadores de alto nível. “Temos um sério problema com falta de mão de obra qualificada, não podemos perder esses trabalhadores”, diz.

Santos destacou ainda que o problema se dá principalmente na área de saúde. “O envelhecimento da população em países desenvolvidos causa um aumento da demanda por enfermeiros e médicos. Muitos brasileiros formados nessa área acabam se mudando para lá.” O professor lembrou que a idade média no Brasil também está aumentando e que esses profissionais “serão ainda mais necessários no futuro”.

Um dos destinos mais procurados pelos emigrantes é o Canadá. “O número de clientes dobrou no último ano”, conta Celina Hui, fundadora da agência Immi Canadá, companhia que auxilia brasileiros em busca de um endereço no país norte-americano.

Segundo a empresária, houve uma mudança no perfil dos brasileiros que querem se mudar. “Antigamente, eram jovens que vinham estudar inglês. Hoje, temos pessoas com ótimas condições financeiras que estão topando começar do zero”. Em sua lista de clientes, Celina conta com advogados, juízes, promotores e médicos.

Rafael Chiuzi, psicólogo de trinta e cinco anos, é um dos brasileiros que decidiram emigrar no último ano. “O prognóstico pouco positivo para os próximos anos fez a diferença”, explicou após ressaltar preocupações com violência e corrupção e a busca por um “ambiente melhor” para criar o filho de quatro anos.

O psicólogo é um dos brasileiros que vão seguir em sua área de atuação no Canadá, situação diferente de grande parte dos emigrantes. Segundo Celina, muitos trabalhadores optam por deixar sua carreira de formação para trabalhar, por exemplo, como assistente de cozinha. O trabalho paga cerca de US$ 2.500 por mês no Canadá, “o que é o suficiente para viver no país”, comentou a empresária.

Celina disse também que os honorários do processo para troca de residência podem custar cerca de US$ 3.800. Os emigrantes também têm que arcar com o preço de passagens aéreas e de vistos.

Mais procurada

Entre as cidades canadenses, Vancouver é a mais buscada pelos brasileiros, segundo dados do Immi Canadá. “Tem temperatura um pouco mais amena, tem praias, é mais agradável para quem vem do Brasil”, justificou Celina.

No ano passado, Vancouver ficou na terceira posição em ranking feito pela Economist Intelligence Unit (EIU). A lista separa as melhores cidades para se viver no mundo de acordo com os índices de criminalidade e a qualidade de serviços públicos, como saúde, transporte e educação.

Toronto e Calgary também aparecem entre os destinos canadenses mais buscados. A segunda cidade, entretanto, perdeu força nos últimos meses por causa da queda nos preços do petróleo, maior propulsor da economia local.

Além do Canadá, outros países registraram aumento do número de brasileiros nos últimos anos. Em 2014, o Reino Unido concedeu 6.712 vistos para trabalhadores que vinham do Brasil, o maior número em dez anos.

Israel é outro país que recebeu mais brasileiros em 2015. Na comparação com 2014 e 2013, o número de emigrantes subiu 58% e 132%, respectivamente, chegando a 486 no ano passado. De acordo com a ONG Funcionários e Voluntários do Beit Brasil, cerca de 1.000 pessoas devem trocar o Brasil pelo país do oriente médio durante 2016.

Caminho contrário

Enquanto o número de brasileiros que saem do País tem crescido, a quantidade de trabalhadores nascidos em outros países que vêm ao Brasil para trabalhar caiu no ano passado.

Os últimos dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) mostram baixa de 29% na concessão de autorizações de trabalho para estrangeiros no terceiro trimestre de 2015, em comparação com igual período de 2014.