A siderúrgica Shougang Group vai demitir aproximadamente 16 mil funcionários, cerca de 20% de sua força de trabalho, até o fim do ano. Ela começou oferecendo pacotes de aposentadoria antecipada em unidades importantes de Hebei e outras províncias. A companhia cortou a produção de aço bruto em 10% em 2015 e pretende fazer outro grande corte este ano. A última vez que promoveu um corte tão dramático no número de funcionários foi no fim da década de 90, quando foi afetada pela desaceleração econômica global provocada pela crise cambial asiática.

O excesso de oferta vem prejudicando o mercado siderúrgico chinês. A Shougang teve um prejuízo em 2015 e seus concorrentes também estão tendo problemas. A Wuhan Iron Steel pretende demitir mais de 10 mil trabalhadores, uma vez que suas unidades continuam reduzindo a produção.

O setor de energia da China está experimentando tendência parecida, pois os lucros fracos estão forçando as empresas a paralisar operações e liquidar subsidiárias. A Daqing Oilfield, controlada pela gigante estatal China National Petroleum Corp (CNPC), poderá demitir 20% dos funcionários, ou 50 mil pessoas. A mineradora de carvão Heilongjiang Longmay Mining Holding Group também vai cortar milhares de empregos.

A causa do excesso de capacidade da indústria pesada da China remonta a um pacote de estímulo de 4 trilhões de yuans (US$ 602 bilhões em valores atuais) que o governo implementou após a crise financeira mundial de 2008. Muitas companhias aproveitaram o programa e elevaram investimentos, o que resultou numa capacidade de produção entre 30% e 40% acima da demanda do mercado em muitos setores. A desaceleração recente da economia da China agravou o excesso de oferta, sobretudo em setores como carvão e siderurgia.

Em meio a críticas globais de que o excesso de oferta chinês vem prejudicando as condições de mercado no mundo todo, o presidente Xi Jinping está sendo mais enfático nos ajustes estruturais em setores com problemas. No centro de seus esforços estão reformas no lado da oferta – campanha liderada pelo Estado para o fechamento de fábricas ultrapassadas e eliminação do excesso de capacidade.

As companhias estatais, que antes priorizavam o emprego, estão agora passando por grandes processos de demissões dentro da campanha de Xi. A queda na produção vem levando à concessão de mais licenças, redução das horas de trabalho e corte salarial. Funcionários da principal unidade de carvão da Heilongjiang ganham 1.000 yuans por mês, um décimo ou menos do que recebiam no pico das remunerações. Pior é o aumento do número de trabalhadores que nem estão recebendo salários.

Ainda não está claro o tamanho do impacto negativo dessas mudanças estruturais. As estatais serão forçadas a abrir mão de mais funcionários se o governo dobrar suas reformas no lado da oferta.

Pequim estima que 1,8 milhão de pessoas poderão perder o emprego só nos setores de carvão e siderurgia. Protestos contra as demissões e cortes nos salários agora ocorrem com frequência, aumentando os temores de instabilidade social e uma maior frustração com o estilo de liderança do governo.