Em discurso feito na sessão plenária no Senado, líder do PMDB criticou Temer, afirmando ainda que governo foi “pautado por um presidiário” na nomeação do ministro da Justiça

 

Em sessão plenária do Senado realizada na tarde desta quarta-feira (24), o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), criticou a convocação feita pelo presidente Michel Temer de tropas federais para “garantir a lei e a ordem” no Distrito Federal. “É constitucional chamar as Forças Armadas, mas beira a insensatez fazer isso num momento em que o país pega fogo. Beira a irresponsabilidade. E fazer isso de forma dissimulada, dizer que foi a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, que negou”, pontuou Renan.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou em seu anúncio que Temer havia decretado a ação de garantia de lei e de ordem por solicitação do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia, no entanto, desmentiu o ministro, afirmando que havia pedido o reforço da Força Nacional de Segurança Pública, e não das Forças Armadas.

“Nós estamos aprendendo, e não conseguimos, desde Montesquieu, que a democracia tem pesos e contrapesos. E ela precisa ser exercitada e liderada por quem conhece essa correlação, por quem a cada momento faz o diagnóstico, interpreta qual a saída e compõe, constrói, em equilíbrio com as forças vivas da sociedade, e os poderes da República. Se esse governo não se sustenta, não serão as Forças Armadas que vão sustentar esse governo”, disse Calheiros em seu discurso.

O senador criticou ainda o que considera falta de diálogo entre o Executivo e o Legislativo, citando como exemplo o fato de o relatório da proposta de “reforma” trabalhista, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), ter sido apresentada nesta terça-feira (23), contrariando a expectativa da Casa. “Trazer ontem, inesperadamente, sem combinar com ninguém, o parecer cujo relator havia anunciado que só traria depois da solução da crise, para ser empurrado goela abaixo da nação… O povo tem a percepção de que a reforma trabalhista, a previdenciária, terceirização geral inclusive da atividade-fim, é uma coisa só e que está sendo produzida para ferrá-lo.”

Em seu discurso, o parlamentar defendeu a necessidade de se fazer reformas, mas sob outro prisma. “Precisamos fazer as reformas, mas sob outra perspectiva, não pela perspectiva de ferrar o trabalhador. O PMDB não é um departamento do Executivo ou subproduto do governo. É um partido político.”

Calheiros criticou também a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-RS) para o Ministério da Justiça, que ele julgou ter sido uma indicação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso pela Operação Lava Jato, feita por meio do deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS). “A única coisa que o presidente não pode fazer é receber o Marun como enviado de Curitiba para nomear um ministro da Justiça. Isso não vai a lugar nenhum. Porque é inadmissível que um governo chantageado publicamente, que não tem noção do que significa o que pode ou não fazer, continue a ser pautado por um presidiário, inclusive na nomeação de um ministro da Justiça.”