Crise econômica intensificou envelhecimento e melhora de instrução entre os empregados, que já aconteciam com mudança demográfica e maior entrada de brasileiros em escolas e faculdades

A quantidade de pessoas com ensino superior completo que estavam empregadas avançou 2,5%, na comparação entre o ano passado e 2015, de acordo com a Carta de Conjuntura 34, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A análise também mostrou um crescimento de 1,1% no número de trabalhadores com mais de 59 anos, a única faixa etária que teve variação positiva durante o segundo ano da crise econômica.

De acordo com a porta-voz do levantamento, uma mudança na composição do mercado de trabalho brasileiro foi intensificada durante os últimos dois anos.

“As pessoas com maior qualificação são mais bem remunerados e receberam montantes maiores [FGTS] quando foram demitidos. Com esse dinheiro, eles abriram negócios por conta-própria”, afirmou Maria Andréia Parente, pesquisadora do Ipea.

Antes da crise, essa modalidade de empreendimento era dominada por trabalhadores sem graduação, seguiu ela. Nos anos de recessão, entretanto, o emprego por conta-própria foi tomado por indivíduos com ensino superior completo, completou Maria Andréia.

O recorte por faixa etária também foi afetado pela recessão. Segundo a especialista, os jovens foram mais prejudicados por terem menor experiência e demissões menos custosas. “Quanto mais tempo a pessoa fica na empresa, maior o pagamento quando ela é mandada embora.”

Conjuntura

Os efeitos da crise econômica também intensificaram alterações estruturais que já eram vistas no mercado de trabalho.

Na análise por idade, a mudança da estrutura demográfica do País, causada pela redução da taxa de natalidade e pelo aumento da expectativa de vida, já ampliava a quantidade de trabalhadores mais velhos bem antes da recessão.

“Na década de 80, tivemos um boom na entrada de jovens no mercado. Depois disso, a população empregada envelheceu cada vez mais. E essa tendência deve ser acentuada pela reforma da previdência”, afirmou Maria Andréia.

Já a instrução dos trabalhadores foi afetada por políticas públicas, disse a pesquisadora do Ipea. Ela destacou os esforços dos governos, nos anos 90, para manter as crianças na escola e, neste século, para inserir mais estudantes nas universidades. “Programas federais como o Fies e o Prouni foram importantes nesse sentido.”

Perspectivas

Mesmo com um número maior de trabalhadores mais velhos e com ensino superior completo, a taxa de desemprego para essas categorias cresceu no ano passado. Isso porque a demanda por emprego avançou mais que a oferta de vagas no período.

Para os trabalhadores com 60 anos ou mais, a taxa chegou a 3,4% no quarto trimestre de 2016, ante 2,5% em igual período do ano anterior, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A porcentagem para os indivíduos com graduação alcançou os 5,8% entre setembro e dezembro do ano passado, contra 4,8% no último trimestre de 2015 .

Na visão de Maria Andréia, o desemprego deve começar a diminuir no último trimestre deste ano, caso a economia encontre uma “rota de crescimento mais sólida”.

Ela ressaltou que já há sinais de melhora, como a desaceleração no ritmo de queda da ocupação – consideradas todas as categorias – e a leve alta do rendimento real nos primeiros meses deste ano.

“A princípio, o pior já foi”, afirmou a especialista. “Ainda assim, o que estamos vendo é apenas o início de uma estabilidade, que acontece em patamar bem desconfortável.”

Fonte: DCI