Resultado significa que indústrias produziram mais com menos horas trabalhadas; avanço está relacionado a investimentos em tecnologia e aos cortes de pessoas realizados durante a crise econômica.

Brasil teve um aumento na produtividade de 4,5% em 2017, de acordo com a pesquisa divulgada nesta quarta-feira (28) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O estudo foca em indústria de transformação, considerada aquela que transforma matéria-prima em produto final. O bom resultado pode ser reflexo do momento de crise econômica vivida pelo país, que levou as empresas a enxugarem suas equipes e os funcionários restantes a trabalhar mais intensamente.

A pesquisa mostra que o volume produzido na indústria cresceu 2,2% no ano passado, enquanto o o número médio de horas trabalhadas nas empresas caiu na mesma proporção. Na prática, isso significa que as empresas estão produzindo “mais com menos”.

“Se a empresa fica mais eficiente, é possível produzir mais”, explica Renato da Fonseca, gerente de pesquisa e competitividade da CNI. Segundo a CNI, dois fatores levaram ao aumento da produtividade no ano passado.

  • Infraestrutura: As fábricas menos produtivas acabam fechando suas portas, com isso cai a proporção desse tipo de fábrica no país.
  • Trabalhadores: Durante a recessão, cortes de equipe são comuns e a tendência é que as empresas retenham os colaboradores mais produtivos e dispensem os que não produzem tanto.

Esse efeito está relacionado a busca pela sobrevivência, por parte das empresas, e pela manutenção do emprego, por parte dos trabalhadores, explicou Fonseca.

Segundo ele, esse comportamento é mais perceptível em momentos de crise, quando empresas precisam ser mais eficientes, reduzindo custos, aumentando assim a sua produtividade. Os funcionários também tendem a se esforçar mais em períodos recessivos.

Nos últimos 10 anos, a produtividade da indústria brasileiras cresceu 8,4%, segundo a CNI. No entato, o Brasil ainda é um dos últimos países no ranking de competitividade da própria confederação da indústria (leia mais abaixo).

Na prática

Em Lagoa Santa (MG), uma fábrica que produz um scanner de extensão utilizado em presídios conseguiu reduzir seu tempo de produção quase na metade. “Antes a gente levava em torno de 6 a 7 dias e agora conseguimos fazer em 3, no máximo 4 dias”, conta Rodrigo da Silva, gerente de produção da indústria.

Isso ocorreu mesmo em um momento em que a empresa precisou cortar pessoas. Para conseguir suportar o aumento de trabalho com uma equipe menor, a companhia teve que repensar a estrutura da fábrica. Ela instalou carrinhos com as ferramentas necessárias para a produção ao lado do trabalhador, reduzindo em 80% a movimentação de pessoas na fábrica.

“Com essas melhorias, ajudou a sentir menos o impacto de perder pessoas”, afirmou Silva.

Outro que repensou seu processo produtivo em 2017 foi Vladimir Rossi, sócio de uma fábrica de produtos para sorveterias em Vila Velha (ES). Ele disse que não precisou fazer cortes no período, já que seu negócio cresceu na crise. Sua empresa fornece insumos para vendedores de sorvete e, com a crise, cresceu o número de ambulantes.

O ganho de produtividade veio com investimento em tecnologia. “Conseguimos diminuir o retrabalho e colocamos uma espécie de timer numa das máquinas que para automaticamente quando finaliza a etapa de produção. Só isso já aumentou a produtividade e até reduziu custo”, afirma o empresário. Segundo a CNI, o ganho de produtividade da empresa foi de 221,75%.

Tecnologia

O avanço tecnológico impacta diretamente na produtividade dos negócios, segundo a pesquisa. Em momentos de crise, ela também assusta os funcionários que têm medo de perder seus empregos para as máquinas.

“Com as empresas ganhando mais mercado, o número de vendas aumenta. Se a empresa estiver mais competitiva, ela vai acabar contratando mais pessoas”, avalia o gerente da pesquisa.

“O que determina o número de empregos é muito mais se a economia está crescendo do que a tecnologia. A tecnologia determina qual emprego vai estar disponível”

Brasil ainda perde para outros países

Apesar dos resultados positivos, o Brasil se mantém na penúltima colocação no ranking de competitividade feito pela CNI. O país ocupa a mesma posição desde 2012. Para Fonseca, para o Brasil chegar ao nível dos países desenvolvidos e até dos emergentes, é preciso manter o ritmo de crescimento.

“Considerando que o crescimento (da produtividade) foi gerado pela crise, que é a nossa suspeita, assim que a crise acabar, o efeito perde força. Se a gente não intensificar o investimento em inovação nas empresas, ou seja, trazendo novas tecnologias, novas máquinas, continuar fazendo os investimentos em gestão, a gente perde ritmo e não consegue alcançar esses países”.

Para a CNI, o chamado “custo-Brasil” também é um fator decisivo para a competitividade das indústrias brasileiras. Altas cargas tributárias, alto custo com transporte são alguns pontos que encarem o preço final e atrapalham o produto brasileiro.

“A gente tem empresas altamente competitivas, completamente robotizadas, com linha de produção elevada e trabalhadores bem eficientes. Elas podem ser muito produtivas, mas acabam não sendo competitivas, porque outros custos fora da empresa atrapalham. Isso desestimula as empresas a aumentar o investimento”, comenta Fonseca.

Foto: Mercedes-Benz/Divulgação