O spread bancário –a diferença entre os juros pagos pelos bancos para captar dinheiro e quanto eles cobram do correntista em um empréstimo– atingiu, em setembro, a maior taxa desde 2011.

Em um ano, o spread cresceu 13,7 pontos percentuais, para 41,2 pontos no mês passado, segundo segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta (26).

O custo médio de captação dos bancos no mês passado foi de 12,3%, quase o mesmo de agosto. Mas a taxa cobrada por eles para emprestar a consumidores e empresas subiu de 52,9% para 53,4% ao ano. Os dados se referem a recursos livres (sem financiamento imobiliário e empréstimos do BNDES).

Esse aumento na taxa cobrada pelas instituições financeiras foi puxada pelos juros cobrados dos consumidores –no caso das empresas, houve queda. Para os clientes pessoa física, o aumento foi de 1,6 ponto percentual em relação a agosto e 12,8 pontos em relação a setembro de 2015.

Já o spread dos empréstimos concedido a empresas teve uma queda em relação a agosto de 0,6 ponto percentual. Em relação a setembro de 2015, houve uma alta de 3 pontos percentuais.

“Os juros cobrados do consumidor aumentaram por causa de categorias como cheque especial e cartão de crédito, onde as taxas cresceram”, afirmou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.

QUANTO ELES COBRAMSpread bancário cresce em setembro puxado por juros cobrados ao consumidor

Quem parcelou a fatura do cartão de crédito no mês passado pagou, em média, 121,1% de juros por ano, 3,9 pontos percentuais a mais do que em agosto.

O consumidor que entrou no rotativo (quando ele paga um valor menor que o total da fatura) contratou uma taxa de juro anual média de 480,30%. O rotativo segue como a linha de crédito mais cara do sistema financeiro.

João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho, afirma que bancos aumentam o spread para garantir o lucro em períodos de crise, em que há menor apetite por conceder empréstimos. Isso também permite que eles repassem ao consumidor o custo de reservar dinheiro para o risco de calote, que é maior quando a taxa de desemprego cresce.

“Com o menor volume de crédito, os bancos tentam ampliar a taxa de juros para o cliente”, afirma.

NOVOS EMPRÉSTIMOS

As novas concessões de crédito a consumidores continuam em queda, mostram os dados do BC. Os novos empréstimos com recursos livres totalizaram R$ 139,7 bilhões, redução de 6,2% em relação a agosto e de 2,7% em 12 meses.

“A greve dos bancos prejudicou as concessões, sem dúvida”, afirmou Maciel. “Mas não haveria mudança na tendência do mercado de crédito, que é de baixa”.

No caso das empresas, os novos empréstimos com recursos livres em setembro somaram R$ 107,4 bilhões, alta de 5,2% em comparação com agosto e queda de 10% em 12 meses.

Com esse aumento para pessoas jurídicas, os novos empréstimos em geral subiram em setembro, segundo divulgou o BC. A média diária de empréstimos totalizou R$ 13,1 bilhões no mês passado, um aumento de 7,2% na comparação com agosto e um recuo de 8,1% nos últimos 12 meses.

ESTOQUE

O estoque de crédito (total de dinheiro emprestado na economia) recuou 0,2% em setembro em comparação com agosto, totalizando R$ 3,1 trilhões no mês passado. Na comparação com os últimos 12 meses, houve uma redução de 1,7%.

A redução aconteceu por causa da retração na carteira de crédito de empresas, que recuou 0,4% em relação a agosto, fechando setembro em R$ 1,5 trilhão. No caso da carteira de consumidores houve estabilidade, com um saldo de R$ 1,5 trilhão no mês passado.

COMPETIÇÃO

Na prática, o que ajuda na redução do spread é a maior competição entre os bancos pelo cliente, diz Salles.

Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, disse ver espaço para competição com a redução da taxa básica de juros. Na semana passada, o Banco Central reduziu a Selic de 14,25% para 14%, o primeiro corte em quatro anos.

“Os bancos vêm com carteiras de crédito sem nenhum crescimento. Existe apetite para crescer e acho que vai existir interesse em repassar [a redução dos juros]”, afirmou em entrevista para detalhar os resultados do banco no terceiro trimestre. Os empréstimos para pessoa física do Santander saltaram 6,8% em um ano, para R$ 88,44 bilhões no trimestre encerrado em setembro, mas o avanço foi em crédito imobiliário e consignado, de menor risco.